Este blog é para postar os artigos que são publicados no jornal A Folha Regional, de Getúlio Vargas, de autoria de Paulo Dalacorte.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Um Senhor Bibliofilo

"Traduzindo à letra, um bibliófilo (do Grego biblion, livro, e philos, amigo) é um amante de livros". [in, Iniciação à Bibliofilia - João José Alves Dias, Pró-Associação Portuguesa de Alfarrabistas, 2ª Feira do Livro Antigo, MCMXCIV]

Segundo o próprio João José Alves Dias "o bibliófilo não é apenas aquele que tem livros do século XV e XVI, ou de outras épocas recuadas. Pode-se até ser bibliófilo sem possuir nenhum livro dos séculos anteriores ao nosso. O que é então necessário para se ser bibliófilo? É necessário amor, carinho e estudo pelo livro que se comprou, seja ele a primeira edição de Os Lusíadas (1572) ou a Mensagem (1934), só para dar dois exemplos, entre os maiores, da nossa poesia”.
Permito-me falar um pouco neste espaço de um jovem senhor paulistano de 93 anos de idade, que muitos de vocês podem nunca ter ouvido falar. Trata-se de José Ephim Mindlin, um Senhor Bibliófilo, que tive a oportunidade de conhecer pessoalmente no decorrer da última Jornada de Literatura transcorrida na UPF, em Passo Fundo.
Ele foi agraciado com o titulo de Doutor Honoris Causa naquela oportunidade, pois juntamente com sua esposa Guita, ao longo de uma vida formaram uma enorme biblioteca. Segundo suas próprias palavras com mais de 50.000(cinqüenta mil) volumes, dos mais diversos temas e autores.
Inicialmente, conhecia o Doutor Mindlin apenas de manchetes de jornais, capas de revistas, entrevistas na televisão e principalmente pelo seu currículo de empresário bem sucedido. Alem disto, sabia que dentro de sua vasta biblioteca havia uma coleção de gravuras invejável, pois num determinado período da historia brasileira elas estavam acondicionadas nas edições de livros de artes, principalmente entre as décadas de 50 a 70.
Após, entre os meses de janeiro e abril de 2004, cedemos obras de nossas coleções de gravuras para uma Exposição no Santander Cultural, em Porto Alegre, intitulada “Impressões – Panorama da Xilogravura Brasileira”. Mesmo que na abertura da mostra estivéssemos os dois presentes, pelo acumulo de pessoas a cercá-lo foi impossível conhecê-lo pessoalmente. Oportunidade que veio a ocorrer agora, três anos depois deste evento.
Em nosso encontro este simpático Senhor fez a gentileza de escrever de próprio punho uma pequena carta a minha filha Isabela de 11 anos, que adora livros e leitura, mas não pode estar presente. Contou a ela, entre outras coisas, que sua coleção começou como uma plantinha e regada tornou-se uma arvore até que acabou se transformando numa enorme floresta. Claro, segundo ele, em 80 anos de colecionismo. Indicou a ela na correspondência, e repasso a outros jovens leitores getulienses, o que ele considera uma obra prima da literatura infanto juvenil, chamada O Pequeno Príncipe de Antoine de Sant-Exupéry.
A iniciativa de ter ido ao encontro do novo amigo colecionador ficara guardada em minha trajetória de colecionador. Valeu uma foto memorável com o Doutor Mindlin onde ele segura uma revista do Instituto Histórico e Geográfico de Getulio Vargas. No entanto o mais importante foi sua simpática acolhida, a humildade, a sabedoria e principalmente a vitalidade dele.
Entre conversa e outra me contou que irá deixar, com o consentimento de seus quatro filhos, grande parte de seu acervo, as Brasilianas (com cerca de 38.000 volumes) doadas para a Universidade de São Paulo. Assim, desta forma acredita que tornara público seu acervo bibliográfico, além de manter a unicidade do trabalho de uma vida. Com certeza seu patrimônio ficara preservado culturalmente.
Aos getulienses um exemplo que pode ser seguido. Temos nosso Instituto Histórico e Geográfico que também prima pela preservação de nossa cultura. Tem um acervo de doações que certamente pode ser enriquecido com seus guardados pessoais. 

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