Este blog é para postar os artigos que são publicados no jornal A Folha Regional, de Getúlio Vargas, de autoria de Paulo Dalacorte.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

PÓS - MODERNIDADE

“Nunca me preocupo com o futuro... muito em breve, ele virá.”- Einstein

As rápidas transformações ocorridas atualmente estão em todos os setores de nossa sociedade. Das pequenas engenhocas tecnológicas ao ensino estudantil, com seus cursos a distância que nem imaginávamos fossem possíveis há algum tempo atrás.
Na minha infância e adolescência o mundo girava na volta de Getulio Vargas. Os passeios escolares de final de ano eram piqueniques pelas cercanias. O que eu mais gostava era a ida a cascata de Santa Lucia, onde havia um moinho com uma roda d’água, na terra do Seu Abílio e da dona Irma Caramori. Viagem mesmo, só no ano que estivemos em Marcelino Ramos nas águas termais.
Quando conto para minhas filhas elas dizem ser coisa da era do gelo. Hoje, nos tempos modernos, os passeios no final do ano letivo incluem cidades como Canela e Gramado, Porto Alegre, Camboriu com Beto Carreiro World, Florianópolis, Curitiba, Foz do Iguaçu enfim todos locais distantes e badalados pontos turísticos do sul do País.
Num futuro próximo, na época de meus netos, o passeio incluirá um pequeno tour pela Europa. Nele visitas a Portugal de nossos colonizadores, a Espanha de Picasso, a Itália e a Alemanha de nossos ancestrais e para finalizar um banho nas Ilhas Gregas. Falarão aos seus colegas, com certeza, que no tempo do vovô os passeios eram da idade da pedra.
Já meus bisnetos, que dificilmente irei conhecer, no fim da temporada letiva onde as aulas serão totalmente virtuais e comandadas por um professor que será traduzido on-line simultaneamente em diversas línguas, dirão com a maior naturalidade a seguinte frase: “pessoal vamos dar uma esticadela até marte e logo de noite estaremos de volta”.
Pois, do jeito que as coisas andam, mesmo que o futuro seja imprevisível para todos pensadores e historiadores, não será mera ficção ou imaginação causada pelo Mal de Alzheimer de um velho, mas uma trajetória muito real da Pós - Modernidade que se aproxima. Uma pena que nesta globalização, acabamos não tendo tempo ou se esquecendo de curtir as coisas simples e próximas como piqueniques e a cascata dos Caramori.

IMAGENS

“O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isto” Mário Quintana

Dias atrás foi publicada em sites e jornais uma foto do goleiro Bruno, ex-Flamengo, suposto mandante da execução de Elisa Samudio. Nela aparecia saindo do hospital numa cadeira de rodas, com soro e algemas nos braços.
Cena deprimente contrasta, em muito, daquelas imagens visuais em que mostrava o atleta campeão brasileiro e ídolo da garotada. Menino pobre, Bruno, através do futebol ficou rico e conseguiu alcançar fama ainda novo. Tudo o que almejam a maior parte dos cidadãos brasileiros.
Num ato impensado, ele destruiu a carreira, os sonhos e voltou à miséria humana. Não pense que tenho pena deste cidadão, pois acho que se confirmadas às suspeitas a justiça deve ser feita.
Revendo algumas fotos pessoais lembrei-me de um amigo de infância. Na imagem, com uniforme escolar, formávamos uma dupla de contrastes. Ele negro e nas séries iniciais do ensino básico. Eu branco e no jardim de infância. Comprometeu-se com meus pais acompanhar-me na ida para Escola Mathias Lorenzon. Garoto esperto, sorridente, morava na casa que atualmente é dos Knerek.
Com a transferência de local de trabalho de seu pai, operador de máquina na capatazia do Daer, não tive mais noticias dele. Soube apenas que havia mudado para o Paraná. Até que, anos atrás, ele apareceu. Chamou minha mãe de madrinha e começou a chorar. Sua fala misturou lembranças antigas e outras recentes sem nexo. Disse ser operador de maquinas igual ao pai, pediu dinheiro e foi.
Soubemos, através de alguns relatos de parentes dele, que após um dia de trabalho ao tomar um banho frio, teve um choque térmico. Um fato que modificou completamente sua vida. Enfim para meu amigo Adão, a quem vocês conhecem por Bob, a vida foi cruel, diferentemente do acontecido com Bruno. A partir daquele fato virou andarilho e em condições miseráveis.
Freqüentemente o encontro na rua perambulando com seu cachorro guardião. Fala das mesmas coisas, da madrinha Dirce hoje já falecida, pede um dinheiro, um cigarro e vai embora. Imagem triste e contratante do menino esperto e alegre de outrora.
Espero que este pequeno relato acenda um pouco da compaixão que existe em todos vocês. Se quiserem ignorá-lo, como faz o poder público no geral com estas pessoas, ao menos não o maltratem. Deixem-no viver com seus sonhos e fantasias, e pensem que nenhum de nós sabe o que nos reserva o futuro.

Semana Farroupilha – Das Lendas e Lutas à Glória

“Não basta pra ser livre, Ser forte, aguerrido e bravo
Povo que não tem virtude, Acaba por ser escravo” – Hino Rio-Grandense


A história de luta do povo gaúcho fez com que, entre 14 e 20 de setembro, sejam comemorados e exaltados estes feitos. É a Semana Farroupilha.
Meados de 1700, e os pampas gaúchos já despertavam o interesse dos colonizadores. O desenvolvimento nas missões jesuíticas provocava espanto nas cortes da Europa. Procurando se desprender dos colonizadores espanhóis e portugueses, o cacique Sepé Tiaraju, nascido nos aldeamentos jesuíticos dos sete povos das missões, foi o líder e comandante dos Guaranis nos diversos conflitos existentes estes e os colonizadores. Na famosa Guerra Guaranítica se dizimaram grande parte dos 30.000 índios. Sepé Tiaraju, que disse aos colonizadores: “Não preciso esmolar liberdade” e “Esta terra tem dono” deixou um exemplo de amor e luta pela sua terra. Hoje seu nome é uma lenda e símbolo da sonhada liberdade.
Após um século, entre setembro de 1835 a março de 1845, houve a Revolução Farroupilha. Nela, a então província de São Pedro do Rio Grande do Sul, na época do Brasil Império, se declarou independente. O principal motivo para a Guerra dos Farrapos, que se configurou a mais longa revolta brasileira, foi o excesso de taxas impostas pelo Império, para os produtos como o charque, couros e graxas. Eis a origem da Republica Rio- Grandense. Mesmo perdendo terreno no decorrer da Guerra dos Farrapos, a luta significou a consolidação do Rio Grande como força política dentro do País.
Depois, entre 1893 e 1895, com a Proclamação da Republica houve, aqui no Sul, a Revolução Federalista. Nela dois grupos políticos locais pleiteavam o poder: o Partido Federalista e o Partido Republicano Riograndense, o vencedor desta luta. E finalmente, fechando a tríade de lutas, veio a Revolução de 1923. Conseqüência da Revolução Federalista. Nela os maragatos (dos lenços vermelhos) brigavam pelo fim da continuidade no poder exercida pelos chimangos (dos lenços brancos). Foi uma guerra desigual, pois os chimangos eram mais numerosos e bem armados, que durou apenas 11 meses. Porém, a revolução de 23 proporcionou ao Rio Grande do Sul articular uma política de paz que viria a se consolidar em termos nacionais, tendo sido Getulio Vargas o líder vitorioso do Movimento de 30, que colocou fim a Republica Velha.
De lá para cá, lutas e batalhas ficaram restritas a memória do nosso povo. A crescente industrialização e a forte expansão do setor terciário fizeram os habitantes da área rural a buscar, nos centros urbanos, novas oportunidades de ascensão social. Porém, o gaucho campeiro, sem conseguir se adaptar aos costumes da cidade recriou nela as suas origens rurais. Surgem então, no fim dos anos 40, o Centro de Tradições Gaucha. No “galpão campeiro” ele mantém a tradição do churrasco, o chimarrão e os fandangos. Sempre com a presença das figuras do patrão, da prenda com seu vestido de chita e do peão com sua “pilcha” e seu lenço vermelho ou branco. É, portanto, neste novo cenário, que se exaltam e homenageiam os feitos, a história e cultura do povo gaúcho.
Pois, em nossa cidade temos três CTG’s (Centro de Tradições Gaucha). O Tropilha Crioula, um dos pioneiros, foi o 9º CTG a ser legalmente registrado no Estado. Fundado em 25/04/1957, na sede do Clube Aliança, por 200 pessoas. Seu primeiro baile realizou-se no dia 27/07/1957, na sede do Tabajara Futebol Clube. Precisou ser interrompido na metade, pois o município foi assolado por uma enchente naquela noite. Atualmente em sua sede realiza fandangos e tem uma invernada artística e campeira. Com o crescimento do movimento tradicionalista no estado, na década de 80, surge o CTG Getulio Vargas. Fundado em 14/05/1985, com 20 integrantes, adquiriu um terreno do Sr. Breno Ponzi, e fez uma Sede ampla. Atualmente com 500 sócios tem, além de bailes e da invernada campeira, uma invernada artística. Que agora esta acrescida da Invernada Xiru, cujos componentes tem acima de 30 anos, sendo a primeira na região do Alto Uruguai. Conta, também, com um Museu onde ficam expostas peças antigas que foram doadas pela comunidade. Tradicionalmente na sua sede na semana Farroupilha serve um café de chaleira, inclusive neste ano. Recentemente, em 23/07/1999, com 30 integrantes foi criado o CTG Potro Xucro. Não possui uma sede própria definitiva para realização de seus eventos, que ainda são feitos em outros Centros Tradicionalistas. Tem uma invernada campeira atuante e não cobra anuidade de seus integrantes.
Neste ano a cidade de Getulio Vargas inova em seus festejos na Semana Farroupilha. No Centro Administrativo Municipal esta ocorrendo o primeiro Acampamento Farroupilha. Ele objetiva congregar, num único local, além dos CTG’S, os DTG’S (departamentos tradicionalistas gaúchos), os piquetes, os cavaleiros, enfim todos que cultuam e zelam pela tradição gaucha. Durante a semana ocorrem cursos, atividades culturais, muita comida típica e shows musicais. Espero que se obtenha êxito e a tradição gaucha saia fortalecida para edições futuras. E, quem sabe, num futuro próximo, até com desfiles temáticos como acontecem em outras cidades gaúchas.

E AGORA BRASIL

"Eu não sou louco." Pelé, em 2001 sobre a possibilidade de ser o treinador da Seleção Brasileira

Enquanto, no futebol, fomos eliminados pela segunda Copa do Mundo consecutiva, nossa seleção de vôlei vem sendo cada vez mais líder na liga mundial. Guga no tênis, mais recentemente o nadador Cesar Cielo e a atleta Maurren Maggi, entre outros vem mostrando que esportes menos badalados no País vão formando atletas campeões. E lembrem que em 2016 teremos Olimpíadas na cidade do Rio de Janeiro.
No entanto, vem de tempos que somos conhecidos mundialmente como o “País do Futebol”. Um símbolo da nação que se orgulha e acredita que este é o esporte no qual somos os melhores. Após a derrota na copa de 2010 os noticiários esportivos buscarão explicações, culpados e principalmente caminhos para uma nova etapa que se aproxima. Pois, em 2014, seremos o País sede da Copa do Mundo.
Do que ouvi até o momento fecho com o escrito no Blog do Avallone, postado no UOL esporte. Transcrevo parte do texto para que o leitor tire suas próprias conclusões. Segundo ele, sobre a Seleção Brasileira: “O que faltou mesmo foi mais bola, foi mais futebol. Ou melhor: mais futebol brasileiro de verdade! Tirando um ou dois- e ninguém sabe ao certo por quanto tempo- como Robinho (ainda emprestado ao Santos) e Gilberto, do Cruzeiro, qual será a casa de nossos jogadores eliminados da Copa? Praticamente todos jogam fora do Brasil, daí a talvez a causa maior da “europeização” do nosso futebol antes tão rico em criatividade. Logo, não terão de suportar nenhum tipo de nariz torcido ou barra quente da torcida decepcionada. Assim, é mais fácil. Como fácil também é saber que Dunga não mais será o técnico dessa Seleção. Nem é preciso ser profeta para saber disso, está mais do que na cara. Que venha, então, alguém que faça o Brasil jogar como Brasil. Afinal, a próxima Copa será aqui. O amigo concorda?”.
Na verdade perdemos porque tínhamos adversário a altura e não somos imbatíveis. Muito embora sempre se diga que somos os melhores no futebol. Precisamos aprender a evoluir com os tombos na vida nos preparando para as adversidades.
Espero que nesta derrota possamos tirar lições. Minha sugestão é que inicialmente se faça uma pesquisa de opinião sobre quem deve comandar a Seleção. E, então, sem invenções e experiências, com um treinador capacitado e com jogadores qualificados e identificados com nossos times e povo quem sabe poderemos ter um melhor desempenho no futuro 2014, o ano da Copa do Mundo no Brasil.

A LEGIONÁRIA SELEÇÃO BRASILEIRA

“Para nossos jogadores ricos e famosos, o Brasil é a vaga lembrança da infância pobre, humilhada. O povo todo estava de chuteiras, para esquecer os mensalões e os crimes, mas nossos craques não perderam quase nada com a derrota, tiveram apenas um mau momento entre milhões de dólares e chuteiras douradas pela Nike.” Arnaldo Jabor (trecho de crônica publicada em 2006).

Legionário, inicialmrnte, era um infante romano bem treinado e organizado, conhecido por ser um soldado de uma legião. A legião era um destacamento militar que tinha entre 4 e 8 mil membros naquela época.
Após surgiram outras legiões, e uma em especial que se tornou famosa: a legião estrangeira francesa. Foi criada no século dezenove para defender os interesses da França junto as suas colônias na África, América do Sul, Caribe e Oceano Pacífico. Seu destacamento militar era formado por voluntários estrangeiros que não seguiam a mesma estrutura do regimento padrão.
Faço esta introdução apenas para definir a legionária seleção brasileira convocada pelo Dunga. De 23 jogadores selecionados apenas três atuam em times brasileiros e dão entrevistas em português para o seu torcedor.
Tenho uma tese que deve ser de muitos brasileiros há anos, que jogador para servir nosso país deve estar jogando em algum clube brasileiro. Quem prefere partir de seu país para o velho continente em busca de dolares, euros e outras moedas deve saber que não será convocado para a Seleção Brasileira.
E não pense leitor que torço contra o Brasil. No entanto, na derrota não dou a minima, como já ocorreu em 2006. Não ficarei a lamuriar pelos cantos se porvetura perdermos a Copa do Mundo em 2010. Nossos craques sequer retornarão ao Brasil para explicar os motivos da derrota. Voltam a seus lares em Barcelona, Madri, Roma, Milão e outras cidades européias que abrigam estes legionários.
Os selecionáveis convocados para defender nosso País, já há tempos, não tem mais identidade com nosso povo. Habitualmente os últimos treinadores de nossa seleção preferem jogadores que atuam no exterior. A única semelhança que nos une, jogadores e povo, é a lingua portuguesa como forma de expressão. E, também ela começa a ser esquecida pelos convocados.
Ao menos nos resta o consolo de 2014. Como a Copa do Mundo será realizada aqui no Brasil, o País do futebol, essa nossa eterna Legionária Seleção Brasileira terá a noção exata deste sentimento de paixão do povo brasileiro. E se não forem os soldados de chuteiras pela nossa patria terão a dimensão exata da derrota e da insatisfação do seus conterrâneos.

O “Pré – Abaúna” é Nosso

“Proletários de todo o mundo, uni-vos!” - Marx e Engels

Um assunto que é noticia no Brasil é a extração de Petróleo, e a camada Pré –Sal. E nós, leitores, depois de saber que há uma empresa de prospecção de Petróleo mapeando nossa região, vamos nos inserir neste contexto. Quem sabe, em seguida, também seremos o centro de atenção da imprensa nacional.
Com o povo nas ruas e o lema “o petróleo é nosso” o então presidente Getulio Vargas, em 1953 criou a Lei 2.004. Nela se instituía a Petrobras como monopólio do Estado na pesquisa, lavra, refino e transporte do petróleo e seus derivados.
Nos anos 70, o mundo usou como peso e medida econômica o petróleo. Com a crise dele, no final da década, o governo brasileiro se viu obrigado a grandes investimentos na prospecção de jazidas para reduzir a dependência externa. Começaram então os contratos de riscos e a entrada do capital estrangeiro. Muitas empresas vieram a se instalar no setor.
Em São Paulo, o governador Maluf, criou a “Paulipetro”. Estatal paulista cujo objetivo era explorar petróleo na bacia do Paraná. Perfurou diversos poços, no inicio dos anos 80, e achou apenas água. A busca inclusive se estendeu ao aqüífero Guarani, que tem parte inserida na bacia do Paraná.
Este, provavelmente, foi o fato da nossa cidade e região terem a presença de técnicos da Paulipetro naquela época. Porém boatos populares diziam que na abertura do novo canal do Rio Abaúna já jorravam “águas escuras”. E, este era o indicativo da existência de petróleo, sendo o motivo pelo qual a Paulipetro teria vindo até nossa região atrás de Petróleo.
Com a Lei do Petróleo de 97, se iniciou uma nova fase para a indústria petrolífera. Criou-se a Agencia Nacional do Petróleo (ANP) que substituiu a Petrobras como órgão responsável de gerenciar o Petróleo nos Pais, e com isto definitivamente o mercado foi aberto as multinacionais.
Pois em 2006, surge a camada Pré-Sal, que é um reservatório de petróleo localizado nas regiões litorâneas entre os estados de Santa Catarina e o Espírito Santo. E o petróleo encontrado na camada pré-sal do litoral brasileiro está dentro de uma área marítima considerada “zona econômica exclusiva” do Brasil.
Após esta descoberta, o governo estuda criar uma nova estatal, a Petrosal. O Congresso Nacional e o Senado já analisam uma nova Lei para o Petróleo. E, deste modo, nós também podemos reivindicar nossos direitos. Através de uma iniciativa popular apresentamos uma emenda na lei. Muito nossa e bairrista, denominada de Pré – Abaúna, inclusive sugerindo a criação da “Petrúna”, uma filial da Pertrosal.
Sim, senhores. Se realmente houver indícios de que haverá exploração de petróleo em nossa região façamos da costa do Abaúna nossa “região econômica exclusiva”, e como na era Vargas, com o nosso povo unido num só refrão, entoando marchas e portando cartazes e bandeiras, anunciaremos a toda nação que o “PRÉ – ABAUNA” é nosso.
Rumaremos então ao Planalto, concretizando o manifesto comunista de Marx e Engels que diz que “todos os homens são iguais”, sublinhando desta forma a afirmação que os pobres, pequenos e explorados também podem ser sujeitos de suas vidas.

O TROUXEDOR

“As Ilusões vem dos céus, e os erros de nós mesmos”- Joseph Joubert.

Permito-me aqui reproduzir parte da coluna de José Roberto Torero, publicada na Folha de São Paulo, do dia 16/02/10. O titulo é: Torcedor + trouxa = Trouxedor. Inicialmente diz ele: Torcedor, segundo o dicionário Houaiss, significa “Aquele que torce nas competições esportivas”. Já “trouxa” quer dizer “Aquele que é facilmente iludido; tolo”. Pois bem, creio que precisamos de uma nova palavra: “trouxedor”. Uma mistura de trouxa com torcedor. É isso que nós, aqueles que gostamos de ver uma partida de futebol ao vivo, somos.” Deste modo ele, Toreiro, discorre até o fim do seu texto sobre as agruras que é chegar e entrar num estádio de futebol nos tempos modernos. Pego o gancho para fazer um relato pessoal nesta crônica.
Desde pequeno fui apaixonado por futebol. Inicialmente, como mascote do Esporte Clube Cobra Preta, levado pelo tio e padrinho Paulo Filipon. Mais crescido já dava os primeiros chutes num campinho feito de serragem atrás da oficina de altares do meu avô Pedro Dalacorte e da fábrica de formas de tamancos do Seu Francisco Melati. Na adolescência, meu pai construiu, para mim e minha turma, um campo de futebol sete. Era todo cercado e tinha até vestiário. Situava-se onde atualmente esta a Garagem e Ferro Velho do Iran.
Até que conclui o curso secundário e fui morar em Porto Alegre. Então, jogar futebol se tornou esporádico, com algumas peladas no parque da Redenção. Passei, de jogador, a expectador. Meu programa de domingo era assistir aos jogos do Grêmio. Na época, o ingresso da geral era barato. Quase, exceto grandes decisões, não havia filas nem cambistas. Além do que, sempre tinha uma cerveja gelada na copa (naquele tempo era permitido). Sem contar, que também assisti o nosso TA-GUA ganhar do Grêmio, uma façanha inacreditável e insuperável. Portanto, estas idas ao campo de futebol eram motivo de alegria. Relembrava um pouco meus tempos de jogador. Excursionávamos pelo interior ou cidades vizinhas a Getulio Vargas com o Cobra Preta, no micro ônibus do seu Luis Prezoto.
No regresso para Getulio Vargas assisti aos jogos do TA-GUA, quando na primeira e na segunda divisão. Também jogos do Campeonato Municipal, que tem no Guaíba uma entidade que sempre se faz presente. Aos grandes jogos da dupla GRE-NAL, agora assisto no “Fuxicão”, que sempre tem cerveja gelada. Habitualmente ao longo destes anos temos cadeira cativa lá. Somos considerados a turma do camarote e há fortes boatos que o Nilson e Lizandra, no futuro inclusive vão climatizar (risos) nosso ambiente. Isto tudo para nos separar da galera da geral que fica assistindo no telão do lado de fora.
Pois, depois de muitos anos fui ver os dois últimos clássicos Gre-nal, em Erexim, para relembrar os velhos tempos de juventude. Nas duas ocasiões o calor era insuportável. Com valores de ingressos “astronômicos” imaginei que teria ao menos um pouco de comodidade. Na primeira ocasião faltou água, refrigerante ou qualquer liquido para atender aquele público presente. Já na segunda ocasião, em que o sol não foi o fator preponderante, pois o clássico foi jogado a noite assisti ao jogo inteiro de pé. Havia mais pessoas que acomodações para a torcida do Grêmio.
Portanto, tenho absoluta certeza que foi um verdadeiro fracasso minha tentativa de retorno ao estádio. Troquei a comodidade do Fuxicão, pelo, no mínimo, desconfortável campo de futebol. Confesso que como torcedor apaixonado e iludido pelo saudosismo fui o verdadeiro Trouxedor.

QUARTA DE CINZAS

“Acabou nosso carnaval, Ninguém ouve cantar canções, Ninguém passa mais brincando feliz, E nos corações, Saudades e “cinzas foi o que restou” - Vinícius de Moraes

Segundo a pesquisadora Cláudia M. de Assis Rocha e Lima, da Fundação Joaquim Nabuco de Recife, “o inicio do Carnaval remonta a dez mil anos Antes de Cristo (A.C.), quando homens, mulheres e crianças se reuniam no verão com seus rostos mascarados e corpos pintados para espalhar os demônios da má colheita”.
Conforme relato dela, as origens “tem sido buscadas nas mais antigas celebrações da humanidade. Tais como as festas egípcias que homenageavam o touro Ápis e a deusa Ísis. Ou então, a dos gregos que festejavam a celebração da volta da primavera, nas festas Luperciais e Saturnais”. Todos os pesquisadores, no entanto, concordam num ponto. As festas como as de carnaval eram associadas aos fenômenos astronômicos e ciclos naturais. O carnaval, portanto, sempre se caracterizou pelas festas, divertimento público, baile de máscaras e manifestações folclóricas. Na Europa os mais importantes carnavais atualmente são realizados em Paris, Nice, Veneza, Roma, Nápoles, Florença e Munique.
Ainda para a pesquisadora Cláudia M. de Assis Rocha e Lima, “no Brasil o Carnaval, no seu primórdio, foi chamado de Entrudo. Trazido pelos portugueses da Ilha da Madeira, Açores e Cabo Verde, por volta de 1723, consistiam na brincadeira da louca correria, o mela –mela de farinha, para só bem depois surgir às batalhas de confete e serpentinas”. A data é comemorada tradicionalmente no sábado, domingo, segunda e terça - feira anterior aos quarenta dias que vão da Quarta - Feira de cinzas ao Domingo de Páscoa.
Tornarem-se ao longo do tempo tradicionais os carnavais de Rua do Rio de Janeiro, Salvador e Recife, cada qual com suas tradições. O Rio de Janeiro com o ritmo da marchinha, seus blocos populares como o “Cordão do Bola Preta” e seu tradicional desfile de apresentação das Escolas de Samba; Salvador com seus trios elétricos e a mistura de sons levam multidões a rua; e, Recife e Olinda onde o povo brinca ao som do frevo e do maracatu, nas principais ruas de suas cidades.
Em Getúlio Vargas, desde os primórdios de sua criação existem alguns registros sobre esta festa tradicional. Dos anos trinta encontramos no Livro “A Chegada” de Pedro Antonio Tagliari, uma foto estampada na pág. 150, onde aparecem carros alegóricos e os foliões desfilando nas ruas da cidade, com a seguinte menção: “foto de desfile carnavalesco, na época da juventude de Afonso e seus amigos, período em que veio a conhecer a Milena”. Nos anos cinqüenta, Heitor José Filippon em seu artigo “O seu Benedito” faz referência ao Bloco dos Morenos. Segundo ele: “O bloco dos Morenos, nasceu da iniciativa de Panella (funcionário do Posto de Higiene). Alegrou nosso carnaval em 1950 e desapareceu. O rei do Bloco era Assunção um brigadiano gordo e popular”. E adiante, cita parte da marcha enredo do bloco “com esta sim, com outra não, o bloco é dos morenos e o nosso rei é o Assunção!”.
Dos anos 70 e início dos anos 80, trago minhas lembranças pessoais. As festas carnavalescas foram marcadas pelos bailes de salão. Eram quatro noites e duas tardes de animação. Nestas décadas o antigo Clube Aliança, a Sociedade Getuliense de Cantores (Sogeca) e o Clube Cruzeiro do Sul, hoje pertencente ao município de Estação, dividiam as atenções dos foliões de nossa região. Presença garantida todos os anos no Clube Aliança era o conjunto “Painel Banda”. Sob a regência do seu Frederico Goelzer, “o Fritz”, pontualmente à meia noite de sábado, com a música Cidade Maravilhosa, eram entoados os primeiros acordes que iriam alegrar a folia durante as próximas noites.
Da metade dos anos 90 até os dias atuais, voltamos novamente aos carnavais de rua. Começa a se tornar tradicional em nossa cidade o carnaval de apresentação e competição, onde neste ano haverá a passagem do Bloco da Terceira Idade, da Escola Império da Zona Norte e da Escola Unidos do Circulo Operário. O desfile levará no sábado dia 13, como em anos anteriores, milhares de espectadores de toda nossa região da grande Getulio Vargas para a Av. Severiano de Almeida.
Atualmente, os bailes de salão, que outrora eram um sucesso em todo Brasil vêm perdendo gradativamente seu espaço, mesmo na televisão e na mídia impressa. Tampouco conseguem dar ao carnaval o sentido popular de “barato e para todos”. No entanto, parte da musica de Vinicius de Moraes descrito acima, pode ser adaptado a mim e minha geração. Ele cita que há muito tempo, “em nossos corações saudades e cinzas foi o que restou”, daqueles bons e inesquecíveis carnavais de Clubes Sociais. Quem sabe com o retorno das atividades do antigo Clube Aliança, agora associado ao Tênis Clube Getuliense, nos ofereça novamente a oportunidade de aliarmos o baile de salão com a festa da Rua.
E, quando o carnaval chegar possamos eu e você leitor, lembrar dos tempos de outrora. Onde aquela parte do refrão da música “Cidade Maravilhosa”, que era tocada pelo seu Fritz e a exaltava como “cheia de encantos mil, coração de meu Brasil” possa ser adaptada a nossa querida e simpática Getulio Vargas. E na quarta feira, quando o carnaval terminar fazer com que “as cinzas do que restou” nos alegre o coração de poder ter participado desta festa que é a manifestação popular mais apreciada em todo nosso País. E esperar, como no fim da musica de Vinicius de Moraes, para na quarta feira de cinzas poder dizer “Quem me dera viver pra ver, E brincar outros carnavais, Com a beleza dos velhos carnavais, Que marchas tão lindas, E o povo cantando seu canto de paz”.

2008, O Ano do Centenário.

“A História é um profeta que olha para trás” - Friederich Von Schlegel

A época é propicia para cada leitor fazer suas reminiscências e esperar um próspero ano vindouro. Acredito que todos tenham em mente velhos “jargões” usados nesta época como saúde para dar e vender, fraternidade em todos corações, esperança e fé em dias melhores, dinheiro e muito dinheiro no bolso. Ao menos são elas expressões corriqueiras que constam nas mensagens natalinas que circulam nas correspondências, pelos computadores e pessoalmente. As minhas esperanças pessoais também se renovam e contém todos estes ingredientes citados além de alguns específicos.
Refletindo rapidamente sobre 2007 há fatos pessoais positivos que foram marcantes neste ano. A colação de grau no curso de Ciências Jurídicas e Sociais na metade do ano. Ver aprovado um projeto para no próximo ano expor as gravuras da Coleção Paulo Dalacorte no Museu de Arte de Santa Catarina (MASC). Poder desfrutar a dezoito anos, junto dos manos Moa e Tchem da Sorveteria Mayorka, toda segunda e quarta feira dos amigos da bola murcha de futsal. Ser convidado junto com amigos, no dia 07 de setembro, a inaugurar um campo de futebol no KM 16 na terra da família Galina, obra do Beto e da Mary da Padaria KS. É assim com estes momentos que vou fazendo minha história durante a trajetória da vida.
Recordando acontecimentos municipais lembro ser este o ano da VII Expoincar, um sucesso de público que mostrou nossas potencialidades regionais, apesar dos eternos “buracos” das ruas da cidade. O espetáculo Tholl - Imagem e Sonho, que certamente foi o principal evento cultural que por aqui passou nesta temporada. E agora recentemente na reunião mensal do Instituto Histórico e Geográfico de Getúlio Vargas deu-se o “pontapé” inicial na comemoração do Centenário da Colônia Erechim em 2008. Para marcar o evento foram confeccionados vários “banners” ilustrativos contando a história de nossos antepassados, que estão sendo expostos na Biblioteca Pública Municipal. Material este, que será disponibilizado a todas entidades educativas, sociais e culturais ao longo do próximo ano.
Portanto, desde a criação da Colônia Erechim, através da Lei assinada pelo governador Carlos Barbosa Gonçalves em 06 de outubro de 1908, cuja sede foi localizada onde hoje se situa o Município de Getúlio Vargas até os dias atuais muito caminho foi percorrido. Lutas, alegrias, sofrimentos que contam a história de pioneirismo num município progressista. Hoje somos nós munícipes a história viva e profetas do próximo centenário. Preparemo-nos para comemorar o 2008. Na entrada do ano que se anuncia vamos nos programar para brindar, divulgar e fazer deste fato um marco histórico na vida da comunidade. 

Um Senhor Bibliofilo

"Traduzindo à letra, um bibliófilo (do Grego biblion, livro, e philos, amigo) é um amante de livros". [in, Iniciação à Bibliofilia - João José Alves Dias, Pró-Associação Portuguesa de Alfarrabistas, 2ª Feira do Livro Antigo, MCMXCIV]

Segundo o próprio João José Alves Dias "o bibliófilo não é apenas aquele que tem livros do século XV e XVI, ou de outras épocas recuadas. Pode-se até ser bibliófilo sem possuir nenhum livro dos séculos anteriores ao nosso. O que é então necessário para se ser bibliófilo? É necessário amor, carinho e estudo pelo livro que se comprou, seja ele a primeira edição de Os Lusíadas (1572) ou a Mensagem (1934), só para dar dois exemplos, entre os maiores, da nossa poesia”.
Permito-me falar um pouco neste espaço de um jovem senhor paulistano de 93 anos de idade, que muitos de vocês podem nunca ter ouvido falar. Trata-se de José Ephim Mindlin, um Senhor Bibliófilo, que tive a oportunidade de conhecer pessoalmente no decorrer da última Jornada de Literatura transcorrida na UPF, em Passo Fundo.
Ele foi agraciado com o titulo de Doutor Honoris Causa naquela oportunidade, pois juntamente com sua esposa Guita, ao longo de uma vida formaram uma enorme biblioteca. Segundo suas próprias palavras com mais de 50.000(cinqüenta mil) volumes, dos mais diversos temas e autores.
Inicialmente, conhecia o Doutor Mindlin apenas de manchetes de jornais, capas de revistas, entrevistas na televisão e principalmente pelo seu currículo de empresário bem sucedido. Alem disto, sabia que dentro de sua vasta biblioteca havia uma coleção de gravuras invejável, pois num determinado período da historia brasileira elas estavam acondicionadas nas edições de livros de artes, principalmente entre as décadas de 50 a 70.
Após, entre os meses de janeiro e abril de 2004, cedemos obras de nossas coleções de gravuras para uma Exposição no Santander Cultural, em Porto Alegre, intitulada “Impressões – Panorama da Xilogravura Brasileira”. Mesmo que na abertura da mostra estivéssemos os dois presentes, pelo acumulo de pessoas a cercá-lo foi impossível conhecê-lo pessoalmente. Oportunidade que veio a ocorrer agora, três anos depois deste evento.
Em nosso encontro este simpático Senhor fez a gentileza de escrever de próprio punho uma pequena carta a minha filha Isabela de 11 anos, que adora livros e leitura, mas não pode estar presente. Contou a ela, entre outras coisas, que sua coleção começou como uma plantinha e regada tornou-se uma arvore até que acabou se transformando numa enorme floresta. Claro, segundo ele, em 80 anos de colecionismo. Indicou a ela na correspondência, e repasso a outros jovens leitores getulienses, o que ele considera uma obra prima da literatura infanto juvenil, chamada O Pequeno Príncipe de Antoine de Sant-Exupéry.
A iniciativa de ter ido ao encontro do novo amigo colecionador ficara guardada em minha trajetória de colecionador. Valeu uma foto memorável com o Doutor Mindlin onde ele segura uma revista do Instituto Histórico e Geográfico de Getulio Vargas. No entanto o mais importante foi sua simpática acolhida, a humildade, a sabedoria e principalmente a vitalidade dele.
Entre conversa e outra me contou que irá deixar, com o consentimento de seus quatro filhos, grande parte de seu acervo, as Brasilianas (com cerca de 38.000 volumes) doadas para a Universidade de São Paulo. Assim, desta forma acredita que tornara público seu acervo bibliográfico, além de manter a unicidade do trabalho de uma vida. Com certeza seu patrimônio ficara preservado culturalmente.
Aos getulienses um exemplo que pode ser seguido. Temos nosso Instituto Histórico e Geográfico que também prima pela preservação de nossa cultura. Tem um acervo de doações que certamente pode ser enriquecido com seus guardados pessoais. 

A MAIORIDADE PENAL

“É negativa a educação humana: em vez de ensinar as crianças a viver, fazendo o bem, ensina-lhes a não fazer o mal; de modo que, mais tarde, se tornam terríveis, porque o aprendem por si”.
(Pontes de Miranda)

 A recente morte do menino João Hélio Fernandes Vieites, 06 anos, arrastado por um veiculo num percurso de aproximadamente 07 km na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, reacendeu as discussões na grande mídia sobre a maioridade penal. A idade em que diante da lei, um jovem passa a responder inteiramente por seus atos, como cidadão adulto. Motivou inclusive a manifestação de posicionamento contrário à idéia da redução na idade do Presidente Lula. Com certeza o debate pela sociedade deste polêmico tema sempre é um avanço para o que denominamos Estado Democrático de Direito. É necessário, no entanto, que antes de você tomar uma posição se faça algumas considerações legais e de contextualização acerca do tema.
Atualmente 70 % dos paises mundiais adotam o sistema da maioridade penal aos 18 anos, atendendo a uma antiga orientação da ONU (Organização das Nações Unidas). No entanto, para ilustrar alguns exemplos de Países onde a maioridade penal está abaixo desta idade poderíamos citar: Estados Unidos (7), Inglaterra (10), França (13), Alemanha (14), Itália (14), Japão (14), Rússia (14) e a vizinha Argentina (16). E no Irã existe uma curiosidade, pois ele diferencia a idade para meninos (9) e para meninas (14).
O sistema jurídico vigente no Brasil diz que a maioridade penal se dá aos 18 anos. Adotou-se, portanto, o sistema biológico, em que é considerada tão somente a idade do agente, independente de sua capacidade psíquica. Esta norma se encontra inscrita em três diplomas legais: O artigo 27 do código penal, o artigo 104 “caput” do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e também em nossa Constituição Federal no artigo 228, que diz: “são penalmente inimputáveis os menores de 18 anos, sujeitos as normas de legislação especial”.
Os artigos 101 e 112 da Lei nº 8.069, (ECA) de 13 de julho de 1990, dispõem sobre normas de legislação especial de que cita a Constituição Federal. Falam de medidas de proteção e sócio-educativas aplicáveis à criança e adolescentes infratores menores de 18 anos, respectivamente. Simplificando podemos dizer que em nossa legislação só as crianças até 12 anos são inimputáveis, isto é, não podem ser julgadas e punidas pelo Estado. Se cometerem crimes, nada sofrerão. De 12 a 18 anos, na época do fato, o jovem que infringe a lei pode ser levado a julgamento numa Vara de Infância e Juventude e estará sujeito a punições do tipo: advertências, obrigações de reparar danos, prestar serviços comunitários, ter a liberdade assistida, inserção em regime de semiliberdade e internação em regime educacional. A medida a ser aplicada deve levar em conta a capacidade dele poder cumprir, as circunstâncias e a gravidade da infração, não se admitindo sob hipótese alguma trabalho forçado. Internar o menor, na Fundação Casa, nome dado à antiga Febem, é ainda a opção mais comum. Estes estabelecimentos foram concebidos antes mesmo da criação do ECA, em 90, e na realidade se assemelham mais a prisões do que a escolas de ressocialização deste menor infrator.
Os trâmites legais para que sejam aprovados os projetos de emendas constitucionais (PEC) são discutidas pelo Senado Federal e depois levadas às votações em dois turnos. Na seqüência devem ser aprovadas no Congresso Nacional para só então se transformarem em lei. Existem atualmente 06 propostas emenda constitucional (PEC) no Senado Federal de redução da maioridade penal. Destas emendas, 04 reduzem a maioridade de 18 para 16 anos, uma para 13 anos para crimes considerados hediondos e outra que determina a imputabilidade penal para menores que apresentarem “idade psicológica” igual ou superior a 18 anos.
Para os defensores da redução da maioridade penal o Estatuto da Criança e do Adolescente é muito tolerante com infratores e não intimida o pretenso transgressor da lei. Dentre as novas medidas, segundo esta corrente ideológica, poderia ser aumentado o tempo de permanência dos menores infratores em casas sócio-educativas que atualmente é de 03 anos para até 10 anos, além de só serem colocados novamente em liberdade quando realmente ressocializados. Outro exemplo que usam para difundir suas idéias diz respeito ao discernimento psicológico. Argumentam que se o adolescente pode votar com 16 anos, também deve responder judicialmente pelos seus atos nesta idade. Também que estes menores infratores são a cada dia mais freqüentemente usados no tráfico de drogas e nos roubos haja vista a complacência da lei para puni-los.
Já os que combatem a redução da maioridade penal dizem que alterações na legislação na ordem prática não reduzem o crime e só acentuam a exclusão social. Alegam que devem ser implementadas medidas para melhorar a educação de uma forma ampla. E, especificamente os sistemas socioeducativo dos infratores. Apresentam números baseados em alguns dados estatísticos apresentados no inicio do ano de 2004 pela Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo. Dizem estes dados que apenas 1% os crimes com dolo (intenção); 1,5% dos roubos e 2,6% de latrocínios (roubo com morte da vitima) praticados no Estado de São Paulo são cometidos por menores. Que segundo o IBGE esta faixa etária representa 36% da população brasileira. Citam também como exemplo a Espanha onde houve a redução da maioridade penal e passado algum tempo com o aumento do numero de ocorrências delituosas fez o governo rever a maioridade penal que tinha sido passada de 18 para 14 anos.
Particularmente acredito que a solução do problema penal brasileiro passa longe da redução da idade. É preciso melhorar a qualidade de ensino aos jovens e adolescentes, pois comprovadamente a grande maioria destes jovens que cometeram algum delito não concluiu o Ensino Fundamental. Devemos dar-lhes exemplos de valores morais e éticos, excluindo dele a idéia de individuo consumidor e fazendo com que tenha a concepção do que é ser cidadão. Deste modo poderá ele estar incluído no meio social em que vive. Quanto a você leitor tire suas próprias conclusões. Agora é sua hora de se decidir: você é contra ou a favor da redução da maioridade penal?

O Correio do Povo

“De memória se faz à história” – Assis Chateaubriand

Ah! Maravilhosa tecnologia chamada Internet que me abastece de informações diárias de toda ordem. Umas alegram, outras comovem, algumas enfurecem e a que li no último dia 22/02/2007 no UOL, com o titulo de “Rádio e TV Guaíba foram vendidas para a Igreja Universal” me recordam bons momentos. Segundo as primeiras informações, será o jornal Correio do Povo o único meio de comunicação que a Empresa Jornalística Caldas Junior não negociou, ao menos num primeiro momento. Parei após a leitura da noticia por instantes e relembrei alguns fatos no transcorrer de minha vida, associados à empresa pela qual possuo um carinho especial. Afinal, foi lá que obtive meu primeiro emprego como estagiário, no ano de 1986.
Recorri ao próprio Correio do Povo, para lhes contar um pouco da história da Empresa Jornalística Caldas Junior. Sob o titulo de “Origem e trajetória do Correio do Povo se entrelaçam com a história do Rio Grande”, a matéria veiculada no dia 02/10/2005, narra o percurso da empresa.(em www.cpovo.net/jornal/especiais/cpesepcial/Fim08.pdf artigo completo). Resumidamente o texto fala que: “o jornalista Francisco Antonio Vieira Caldas Junior fundou o Jornal Correio do Povo, em 1º de outubro de 1895. Com o objetivo de ser apartidário ele dizia que não defenderia nem o branco dos chimangos e nem o vermelho dos maragatos. (..) Sua primeira edição saiu com quatro páginas e 2 mil exemplares.(..) A morte prematura do fundador em 1913 deixou o jornal em dificuldades as quais vieram a ser supridas no ano de 1935, quando a direção da empresa foi assumida definitivamente por um filho do fundador: Breno Alcaraz Caldas. Ele permaneceu no cargo por mais de 50 anos e, nas décadas de 40, 50 e 60 consolidou a liderança do Correio do Povo entre os diários. O Rio Grande do Sul passou a se informar pelo Correio (..)”.
Desta primeira fase, do jornal em formato “Standart”, lembro-me que os lia diariamente na casa de meus avós maternos. Comendo alguma guloseima preparada pela vó Elvira e com aquele enorme jornal espalhado pela mesa do escritório. Assinantes e fãs do Correio do Povo, o seu Abrilino e a dona Elvira Filippon, eram exemplos dos “gaúchos que demonstravam sua confiança no jornal repetindo a frase que se tornaria um slogan não –oficial: Se deu no Correio, é verdade”, segundo consta na referida matéria.
Para lhes dar a dimensão do complexo empresarial que se formou, relata ainda o texto: “expandindo os negócios, em 1936 a empresa lançou a Folha da Tarde, inaugurando o formato tablóide, menor e mais prático, que hoje predomina no Estado. Foi seguida em 1949, pela Folha Esportiva que durou até o ano de 1963. Em 1969, outro lançamento de sucesso: a Folha da Manhã, uma experiência arrojada que circulou por mais de uma década e veio a fechar em 1980. (..) A rádio Guaíba AM foi inaugurada oficialmente em 1957, enquanto que a Guaíba FM só surgiria com o advento da freqüência modulada no ano de 1980. Em 1979 foi a vez de surgir a TV Guaíba. (..) Em junho de 1984 o que parecia impossível aconteceu, o Correio do Povo deixou de circular. (..) desde meados dos anos 70 que a Caldas Junior enfrentava dificuldades financeiras, e um a um os jornais foram fechando”.
Até que no ano de 1986 a empresa foi adquirida pelo empresário e economista Renato Bastos Ribeiro. Disposto a reativar o jornal Correio do Povo, reformulou o parque de máquinas, contratou uma nova equipe de trabalho e no dia 31 de agosto de 1986, o jornal voltou a circular. O titulo do editorial dizia o seguinte: “O Rio Grande e o Correio do Povo se reencontram hoje”. Aproximadamente um ano após, em 1987, o jornal começou a ser publicado num formato tablóide, modelo que segue até os dias atuais. Com uma nova filosofia de chegar ao leitor com custo acessível e ampla circulação.
Pois me lembrei então, que nesta segunda fase do Correio do Povo após seu retorno, é que aluno de engenharia eletrônica na PUC fiz um estágio na empresa. Indicação do meu colega de apartamento e compadre Marcos Belé, que já trabalhava lá. Não pensem vocês leitores que fui um jornalista, colunista ou diagramador. A minha principal função era trocar placas de terminais de computadores estragados durante o período de 16 às 24 horas. Neste horário os digitadores das matérias a serem publicadas no jornal do dia seguinte, as transpassavam das folhas dos jornalistas para a tela do computador. Quando avariado algum destes terminais, era eu quem acionado deveria providenciar a imediata reposição da placa estragada e deixá-la novamente em funcionamento. A outra tarefa, mais árdua para os meus conhecimentos e paciência, era procurar os defeitos apresentados pela placa, retirar os componentes defeituosos delas e repor peças novas. Caso não conseguisse, o que era mais comum acontecer, deixava uma notação do defeito apresentado para o engenheiro responsável de meu setor consertar no dia seguinte.
Foi com esta experiência prática que decidi não mais seguir nesta profissão. Sem muita habilidade para usar multímetros e calma para retirar e refazer soldas em relés, transistores e outros componentes eletrônicos cheguei a conclusão que seria muito frustrado no meu futuro trabalho. Então acordei minha saída da empresa jornalística Caldas Junior sete meses após meu ingresso e tranquei a matricula na faculdade.
Mesmo fora da empresa, e sem deixar grandes amizades pelo exíguo tempo que lá permaneci, aprendi nesta experiência a enxergar um jornal muito além de um simples divulgador de noticias e formador de opiniões. Relembro a correria diária de jornalistas, digitadores, paginadores, diagramadores, entregadores e todo um aglomerado de pessoas que tem um prazo estabelecido para aprontar a edição que deve ser levada matutinamente, na porta do leitor, cumprindo assim sua rotina diária. Talvez estes meus escritos sejam também uma forma de continuar identificado e presente na vida de um jornal, mesmo que de forma esporádica.
Quanto ao Correio do Povo espero que, ao completar 113 anos em outubro de 2007, permaneça vivo e atuante. Gerando empregos e satisfação aos seus fiéis leitores, como este que vos escreve. Aguardemos, no entanto, os desdobramentos que serão apresentados nos noticiários vindouros sobre seu incerto futuro.

As Margens do Abaúna

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

(Artigo 225, caput- Constituição Federal).

    Cada um de vocês leitores, deve fazer, no final de ano suas reminiscências. Um pequeno balanço dos prós e contras que aconteceram durante este pequeno período de vida. As minhas, faço na intimidade. Este ano, nos últimos dias, estive muito em volta de minha residência. Principalmente no fundo do lote de casa, que faz divisa com o nosso Rio Abaúna. Fugi um pouco dos colorados e suas provocações aos gremistas, na euforia de serem, como nós, campeões mundiais. E, principalmente, porque aquele é um local muito calmo e aprazível.
    Seguidamente ouço e leio histórias sobre o Abaúna. Mesmo neste jornal, saem artigos, poemas e crônicas. Até mesmo composições musicais já existem sobre ele. Dizer que a cidade se desenvolveu ao seu redor, que algumas vezes ele nos causa sustos com suas cheias e transbordamento, que nos fornece água, que atualmente está poluído é na realidade falar do óbvio. Obviedade que por vezes passam desapercebidas na correria diária, e seguidamente é saudável que se retome a memória.
    Pois nesta pausa de fim de ano, olhei atentamente para seu leito. Pouca água, muita sujeira e aquele ar de penúria. Então me recordei deste pedaço do Abaúna com que convivi mais intimamente. São do final dos anos 60 minhas primeiras lembranças do Rio. Antes de ser desviado, quando ainda passava pelo centro da cidade. Passeávamos, eu e meus amigos, num tonel de lata cortado. Obra do Dionísio Knerek, o Carqueja. Uma engenhoca onde cabiam no máximo quatro pessoas. Quando o Carqueja a jogava na água formava-se uma fila para desfrutar da navegação. Embarcávamos atrás da Oficina dos Melatti. Percorria uns cem metros, aproximadamente, até a marcenaria do seu Albino Grüber onde a barca era virada nos arremessando na água. Foi desta forma, simples e divertida, que a criançada da redondeza aprendeu a nadar.
    No inicio dos anos setenta houve o desvio do leito original. Fez, portanto, com que ele circulasse nos fundos de nosso terreno. Na época falavam que o motivo para tal feito eram os seguidos alagamentos no centro da cidade. Lembro que os trabalhos para concretizar tal obra necessitavam muita dinamite, pela formação rochosa do terreno. Sabia de antemão, como toda a vizinhança, que ao toque da sirene precisava me recolher para dentro de casa. Além disto, como se não bastasse, minha mãe me obrigava a ficar embaixo da cama. Dizia ser a melhor forma de se abrigar do perigo, pois a casa chegava a tremer
Do antigo leito canalizado aproveitávamos eu e meus amigos, antes de ser aterrado, para brincar com carrinhos de rolamento. Até corridas inventávamos em cima daqueles enormes tubos de concreto. Com o final das obras de canalização e o desvio pronto, o ponto preferido no verão tornou-se então o pequeno trecho nos fundos de casa. Nas suas margens, pescávamos, tomávamos banho e principalmente desfrutávamos da agradável convivência de um rio límpido e tranqüilo. Até nos dias de chuva achávamos o Abaúna o máximo. Porque a correnteza dele nos trazia flutuando do campo do Tabajara até a ponte da Alexandre Bramatti, num instante.
    Quando mais crescidos, nos meados dos anos setenta, o Abaúna já mostrava seus primeiros sinais de poluição e deteriorização. Começava a circular nele animais mortos, latas e outros dejetos que não combinavam com a sua forma digna e fraterna de tratar a cidade. Porém minhas necessidades pessoais já não incluíam o Rio Abaúna. O banho no verão não mais realizava nele e toda minha turma também estava com seus objetivos voltados para outras atividades. Provavelmente tenhamos sido a primeira e última geração que aproveitou este desvio do Rio Abaúna.
    Até que neste término de ano, depois de muito tempo sem atentar ao óbvio, me dei conta de quanto o Abaúna deve andar triste. Minhas filhas até hoje sequer desceram em seu leito, atrás de nossa residência. Pena senti das muitas gerações posteriores a minha que não puderam aproveitar o convívio que mantive em minha infância nas suas margens. Agoniza qual um doente na CTI que espera pacientemente sua hora de não mais circular pela nossa cidade. Quase seco, imagino deva estar chorando pela falta de gratidão que a população lhe dispensou nestes mais de 70 anos de história. E certamente lamentando como seria bom se a comunidade, de forma humana, pudesse limpá-lo, adotá-lo e deixá-lo correr. Livre, como ele deixou que cada um de nós pudesse ser criado a sua volta
    Sugiro a cada de um de vocês amigos leitores, que tirem uns minutos e olhem para o nosso Abaúna. Acredito que constatarão esta obviedade. E, certamente, irão se sensibilizar com tal situação. Quem sabe então, a iniciativa do poder público, de alguma entidade privada, escola ou mesmo a nossa possa iniciar uma campanha de revitalização, neste novo ano, de um patrimônio do município. Num primeiro momento com uma simples limpeza de suas margens. Após medidas que possam realmente tornar nosso Rio Abaúna novamente um encanto e o prazer das quentes tardes de verão para toda garotada getuliense. Além é claro de honrar o nosso mais antigo e ilustre morador com uma justa homenagem.

O MESTRE ATALIBA

“Não há mestre que não possa ser aluno” – Baltasar

Sábado chuvoso e escurecendo cedo. O Grêmio, neste momento,
classificado para disputar a Libertadores do próximo ano, juntamente com o Inter. Vamos lentamente terminando mais um dia de futebol no Fuxicão Lanches. Melancólico dia, diga-se de passagem. Nem das discussões que sempre acontecem após o jogo, não participei. Triste e cabisbaixo fui me recolhendo mais cedo ao lar.
Sentei-me defronte ao computador e resolvi escrever algumas frases em homenagem a um incentivador do futebol local. Este 18 de novembro de 2006 deixará uma lacuna aos desportistas da região e amigos pessoais do Ataliba Flores. O Mestre como costumávamos chamá-lo, partiu. Filho de Seu Octaviano e Dona Alice nasceu em Getulio Vargas no ano de 1937. Foi casado com Leonilda Morilos “a Meca”, como ele a chamava. Teve três filhos: a Rosana, o Flávio e a Fernanda.
Sempre ligado a nossa família, foi na antiga Oficina de Altares dos Irmãos Dalacorte, localizada na Alexandre Bramatti, n.959, que o Ataliba fez sua vida profissional como marceneiro, onde inclusive se aposentou. Deixou espalhados pela cidade muitos móveis construídos e reformados por ele naquele local. No papel e no projeto, que eu saiba, ficou apenas um pequeno altar. Sonho dele e meu pai, para doar a alguma capela local e lembrar-se dos velhos e bons tempos da fábrica de altares.
A última imagem e fala que guardarei do Ataliba me reporta ao mês de abril de 2003. Esteve em uma reunião do Instituto Histórico e Geográfico de Getulio Vargas, a convite de sua prima Lisolete Farias Stawinski. Na ocasião gravou uma entrevista para o projeto Memória Oral Getuliense. Os interessados podem ouvi-la no IHGGV, onde se encontra disponível. Consciente, e por fim emocionado, narrou sua trajetória de vida. Falou da sua infância, da juventude, seu trabalho, sua família e a agremiação pela qual tinha tanto carinho: o Esporte Clube Cobra Preta.
Entidade que, justa e merecidamente, ainda em vida colocou o seu nome como de Patrono do Clube. Porque a imagem do Esporte Clube Cobra Preta se associa com a do Ataliba Flores. Grande parte do prestigio, das conquistas municipais e regionais alcançada pelo Clube se devem a dedicação, a perseverança e ao trabalho pessoal dele. O “cabeção” como carinhosamente o chamávamos, foi jogador, treinador, presidente e nas horas vagas ainda atuava como massagista de seus atletas lesionados. Costumava dizer seguidamente a sua esposa, segundo palavras dela: “Meca, minha primeira paixão foi e sempre será o Cobra Preta”.
E, com seu clube do coração teve inúmeras alegrias e façanhas. Provavelmente, neste momento esteja contando alguma delas nas fronteiras do Além. Ou talvez, iniciando novamente como aluno. Para, adiante, depois de conhecido o “campinho” planejar um Cobra Preta com atletas anjos, no jardim do Éden.
Enfim, cansado vou recostar minha cabeça no travesseiro e dormir. Mas antes, quando deitar, lembrarei que a cama onde durmo foi obra do Mestre Ataliba Flores.

Imortal Cobra Preta

Nos anos sessenta localizado no edifício Melatti, estava o Bar e Mercearia Zadra. Ponto de encontro de jovens, que em função da amizade e afinidade futebolística, resolveram à 05 de abril de 1961 fundar uma entidade esportiva. Estavam presentes, na ocasião, filhos de famílias tradicionais , tais como: Zadra, Melatti, Kaudinski, Flores, Rossoni, Zanol, Prezotto, Trocmovicz, Rodrigues, Filippon, Forlin, Brandalise, Rech, Prataviera, Tefili, Sartori, Rafagnin, Noskoski, Wavzenkievicz, Boton, Silva , Kravos, Michelin, entre outros, todos da redondeza do prédio da Alexandre Bramatti, 1033.
Segundo relato de alguns fundadores desta entidade, o Arno Zadra sugeriu o nome de Cobra Negra. Motivado pelo aparecimento de uma pequena cobra na ocasião que definiria o nome, cores e princípios que seriam adotadas pela futura entidade. No entanto, aceitando sugestão de grande parte dos demais presentes adotaram o nome de Esporte Clube Cobra Preta. As cores seriam o laranja e o preto, que com o passar dos anos mudaram para amarelo e preto. A escolha final do nome do clube, teria sido uma referência ao Pelé, astro futebolístico brasileiro da época. Contam, inclusive, que foi enviada uma correspondência ao ídolo para relatar a homenagem que estariam lhe prestando. Tudo na esperança de que o Rei lhes fizesse uma oferta de algum material esportivo, ou um retorno de agradecimento. Até hoje não houve resposta da mesma.
As três primeiras sedes estiveram localizadas na Rua Alexandre Bramatti. A primeira na propriedade da família Prataviera, n. 1018. A Segunda na propriedade da família Trocmovicz, n. 488 e a terceira na propiedade da família Melatti, n. 988. Atualmente, após um bom período sem um local definido, a entidade construiu sua sede própria.
A primeira diretoria do E.C. Cobra Preta foi composta pelos seguintes sócios: Arno Zadra, Claudio Prataviera, Ulisses Forlin, Orlei Rech, Nadir Rafagnin, Ataliba Flores, Hugo Michelin e Paulo Filippon. Já foram presidentes do clube os Srs. Armando Melatti, Arno Zadra, Miguel Melatti, Ataliba flores, Paulo Filippon, Claudio Prataviera, Ricardo Schimberck, Valmor Somensi , Juliano F. da Silva e atualmente Paulo Roberto Bianchi. Destes todos, cabe destacar um em especial: Ataliba Flores. O Bita, como muitos carinhosamente o conhecem, foi o Presidente que se manteve no cargo por mais de vinte anos. Hoje a sede social do Clube leva seu nome numa justa homenagem. Com sua dedicação e obstinação fez do Cobra Preta, além de seu segundo lar, uma entidade respeitada e multicampeã. Primeiro no Futebol de Campo, e após no Futsal. Só não conseguiu atingir um objetivosegundo suas p´roprias palavras: ser “Quacampeão”( Tetra Campeão) Municípal de Futsal. No fim dos anos oitenta, quando o objetivo estava próximo de ser atingido, contratou com seu auxiliar técnico, o Telmo Belé, um pai de santo da capital. Mesmo assim não foi possível. Perdeu a decisão e ainda uma grana que havia adiantado para que o babalorixá fizesse a oferenda aos deuses.
Minha ligação com o Esporte Clube Cobra Preta é de longa data. Como ele também nasci na Alexandre Bramatti. Meus pais foram os padrinhos da entidade. O meu primeiro aniversário foi comemorado na sua sede quando instalada na propriedade dos Melatti, e minha filha Isabela também teve sua festa de primeiro ano na sede atual. Já em 1967 eu integrava os quadros futebolísticos do clube, como mascote é claro. A camisa, que a guardo como relíquia até hoje, era confeccionada a mão. Tinha gola e era de botões, idêntica aos modelos sociais atuais. Campeão no meu clube de coração só fui de voleibol, no primeiro Campeonato Municipal realizado no ano de 1980. Pouco e atípico se comparado a tantos títulos futebolísticos que o clube coleciona, mas suficiente para satisfazer minha paixão pelo Cobra.
Neste mês, em seus 45 (quarenta e cinco) anos de vida, todos os que de uma forma ou outra colaboraram para sua sobrevivência, seus sócios, torcedores, simpatizantes e patrocinadores estão de parabéns. O esforço de uma comunidade tornou o Cobra Preta uma agremiação futebolística bem sucedida. Com certeza, na quase totalidade deste período, o clube criou opções de esporte e lazer para muitos jovens. Todos guiados pelo nosso timoneiro e grande mestre Ataliba. E, projetando o futuro diria que esta Marca Registrada se tornará um patrimônio histórico municipal, muito antes mesmo de seu centenário. Portanto, à você Esporte Clube Cobra Preta, nesta data querida, muitas felicidades e muitos anos de Vida.

Impressões Cariocas

“As vezes, só a espera no aeroporto já rende uma crônica” Artur Xexéo – colunista do jornal O Globo

Viagens sempre são assuntos que rendem boas crônicas. Assim como muitos leitores que já saíram de férias para diversos lugares do País, atrás de praias, termas ou serra, eu e minha família resolvemos tirar alguns dias de folga, no inicio de janeiro, longe de Getúlio Vargas. Fomos ao Rio de Janeiro e nos hospedamos na casa do amigo Adriano Tefili, no bairro de Botafogo.
A chegada foi um pouco tumultuada. Estavam considerando nossa bagagem perdida e Isabela, minha filha de nove anos, comentava com sinceridade a pessoa encarregada no Galeão da entrega de bagagens que todas nossas melhores roupas, “as domingueiras”, estavam nas malas. Ficaríamos só com a roupa do corpo, carteira e a esperança que as encontrassem noutro dia ou local. Com o valor da indenização, se extraviadas, provavelmente não compraríamos quase nada para repor. Desespero total que foi solucionado, após mais de hora de procura e descoberta nos compartimentos do avião.
O Rio de Janeiro que é dividido pelo Túnel Rebouças entre a Zona Norte e a Sul, tem suas belezas naturais. Falo, obviamente, na Zona Sul onde há uma vista exuberante de toda cidade maravilhosa de seus principais pontos turísticos: o Pão de Açucar e o Corcovado. Na visita que fizemos a estes locais pude constatar que a língua oficial não é o Português. Fala-se muito em inglês, espanhol, italiano, alemão, francês e até japonês e as placas indicativas sempre em mais de um idioma, além do nosso. Uma simples visita ao Pão de Açucar custa R$ 35,00 ao adulto. Realmente muito difícil de ser usufruído pelo carioca e brasileiro com mais freqüência. Aqui em Getulio Vargas diríamos que se vai uma vez na vida e outra na morte.
As praias lotadas, e durante nossa estada, com sol escaldante e águas geladas. O Arpoador, Barra da Tijuca, Leblon, Leme, a Praia Vermelha e as famosas Copacabana e Ipanema com o desfile dos globais nas suas calçadas durante os fins de semana. A moda carioca neste ano é a instalação de bandeiras de Países, Estados e clubes de futebol em mastros das barracas que estão localizadas nas areias ao longo da orla marítima. As barracas alugam guarda sol e cadeiras e oferecem bebidas e iguarias a seus clientes. Em nossas idas a praia em Copacabana, entre o posto 04 e 05, nos instalávamos em volta da barraca do Victor. O curioso é que ele é gaúcho, natural de Passo Fundo, tem saudades das pescarias que fez na barragem de Ernestina e não só conhece Getúlio Vargas, como foi batizado pelo seu Pedrolo, que acredito ser o Ítalo. Prometi enviar a ele uma bandeira do Tabajara ou do Cobra Preta, pintada pelos Spilmann, que representarão nosso município naquele espaço da praia.
A lagoa Rodrigo de Freitas, apesar de maltratada pela poluição, é um lindo cartão postal. Andamos, alugamos bicicletas, comemos um belo peixe, bebemos um bom chopp num dos muitos quiosques que circundam ela. Além disto fizemos uma pequena nas suas águas. Passeamos de pedalinho numa noite eu, minhas filhas e o Eduardo, filho de Adriano. Achamos que conseguiríamos ver a árvore de Natal da Lagoa de perto. Não foi possível. Pedalamos mais de hora e ainda estávamos na metade do caminho. Cansados e com sede desistimos retornando ao ponto de partida.
No mais cinema, pagode, shopping center, que o carioca costuma dizer que é programa de paulista, pois este não tem praia na sua cidade. Aliás, antes da viagem , minha filha Elisa de seis anos queria saber se no Rio de Janeiro existiam shopping centers e escadas rolantes. Só acreditou quando os visitou. Como toda criança do interior, maravilhada com a escada não parava de subir e descer e convencê-la a sair só com mais uma volta saideira. A Lore aproveitou a viagem para conhecer o Rio e também para fazer alguns contatos visando a adquirir novidades para sua loja de confecções.
Enfim, aproveitei meu tempo para ver uma mega exposição no Centro Cultural Banco do Brasil que recomendo a quem estiver indo ou de passagem pelo Rio nos próximos dias. Nominada “ Por Ti América” ela mostra aos visitantes os usos, costumes, utensílios e a cultura dos povos pré-colombianos. Abrangente e educativa é uma verdadeira aula sobre nossos antepassados ameríndios, com muita cerâmica Marajoara. Também revi meus antigos vizinhos, filhos de seu Darci e Isolda Tefili. Num jantar do qual estiveram o Paulo, a Lena, a Silvana e a Denise. Noite de muitas recordações e perguntas dos Tefili sobre antigos amigos aqui deixados.
Histórias que o tempo não apaga , esta viagem ficará marcada na memória. O primeiro vôo de Isabela e Elisa, o reencontro de velhos amigos, e a confirmação de que o Rio de Janeiro continua lindo, seguro e bem adequado a receber a sua principal fonte de renda: o turista.
E assim, de linha em linha, como quem não quer nada acabo de escrever uma crônica sobre a viagem de férias da família Dalacorte na cidade maravilhosa, cheia de encantos mil.

Escrever

“Para sonhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. È dentro de você que o ano novo cochila e espera desde sempre” Carlos Drummond de Andrade

Escrever sinônimo de redigir, compor, exprimir, descrever, narrar, comunicar, contar, dizer, representar por meio da escrita as idéias, pensamentos ou lembranças. Cada pessoa tem seu estilo, forma e assunto que mais lhe interessa, domina, pensa e pratica em sua escrita. Segundo, Oscar Wilde ‘ para escrever só existem duas regras, Ter algo a dizer e dizê-lo”.
Parece simples, porém a tarefa nem sempre é das mais fáceis. Sim, os textos devem acrescentar algo ao leitor, dar-lhe um norte e uma idéia precisa do que narramos, divulgamos, reportamos ou simplesmente acreditamos ser verdades, ao menos as nossas. Mesmo que muitas vezes, estes escritos sejam contrários a opinião dos leitores, somos levados a procurar lembrar, esclarecer, difundir, divulgar, cooperar e praticar a escrita para que os insatisfeitos, se houverem, possam nos contradizer, reformar, melhorar, acrescentar, duvidar e questionar tudo ou algumas coisas das quais colocamos no papel para ser apreciado pelo público.
Atualmente com a “ internet” os textos voam ao seu destino final na velocidade dos megabytes de seu computador. Até os Correios e Telégrafos tornaram-se um mero requinte formal para algumas tarefas que necessitam registros. A televisão, do mesmo modo difunde imagens e sons ao vivo. Narra inúmeros acontecimentos e ainda nos oferece a opção de interagir com os apresentadores, entrevistados na hora da exibição dos programas. Passa a impressão que nada pode ser maior, nem mesmo Grêmio ou Internacional. No entanto, o velho jornal ainda é uma forma atual de divulgação de idéias e grande difusor de opinião. Mesmo que suas noticias já tenham saído em outros meios de comunicação, sempre é possível através da escrita dar asas a imaginação do leitor e fazê-lo usar seu poder de interpretação sobre o assunto descrito.
A minha motivação à escrever para o jornal surge de forma tímida e agora mais arrebatadora. Movida num primeiro momento pela afinidade que possuo com o futebol, do qual sou um apaixonado desde pequeno, já há muito remeto cartas para colunistas esportivos deste País afora. Lembro-me de considerar o meu primeiro bom escrito, um enviado para o Divino Fonseca, colunista do extinto jornal Diário do Sul, da Placar, e muitos outras publicações diárias, semanais ou mensais na figura de repórter, correspondente, colunista ou colaborador, ainda quando se usava uma máquina Olivetti para tanto. Após, elogiar sua forma lúcida e diferente de transmitir ao leitor uma noticia divulgada em todas paginas esportivas dos grandes jornais, comecei a gostar desta “ nova” forma de comunicação, a escrita. Ela registrava uma posição adotada num determinado momento e a difundia para que um ou mais leitores pudessem conhecê-la. Comecei, portanto, a utilizá-la mais freqüentemente.
Passados alguns anos, com mais prática, experiência, impulsionado pela busca de novos desafios e após ler um emocionante comentário de um leitor enviado para o colunista esportivo, Sr. José Neves, do Jornal do Comércio de Pernambuco, sobre a histórica decisão de Grêmio e Naútico, procurei seguir os conselhos de Francis Bacon. Segundo ele “ a leitura torna o homem completo, a conversação torna-o ágil e o escrever dá-lhe precisão”.
Portanto, nada mais que uma urgência, carência do que é preciso para atingir objetivos mais úteis e necessários me levam a tomar uma decisão sobre escrever. Inquirido sobre este fato, torno-o público e com isto devo responder a todos interessados e principalmente a você minha amiga e professora Sônia Piazetta, que há tempos atrás me ajudou com seus ensinamentos e conselhos a buscar o novo e ser preciso nos meus cálculos. Espero que meus escritos, mesmo que poucos, possam fazer e criar necessidades à escritos de outros leitores.