“Cruxen, a história não conta como foi, mas sim quem foi” Ary Vidal, frase ao jogador do Corinthians, na final da Liga Brasileira de basquete
(94).
Enfim chegou o
ultimo dia dos JIRGS. Esperançosos, seguindo a rotina, foram de ônibus ao
ginásio que era longe do centro da cidade. Na chegada direto para o vestiário, com
sua mochila (tênis, calção e meia). Além disto, apenas uma velha bola de
basquete e a sacola das camisas.
Após se fardarem, e antes de iniciar aquecimento e prece, um
jogador foi abrir a janela para fumar um cigarro. Para sua surpresa avistou a
chegada defronte ao vestiário de um ônibus de dois andares. Naquela época usada
apenas por empresas em viagens internacionais.
Ah! Um susto apenas.
Imaginou ser a delegação de Santana do Livramento. As suspeitas, porém, não se
confirmaram. Começou o desembarque. O primeiro foi Ary Vidal, comandante da
geração de Ouro de Oscar e Cia, campeão no Pan de 87.
Ary que costumava dizer: -“Treinador é de cavalos. Eu sou
técnico, aquele que domina o detalhe.” Pois foi ele que topou desbravar o
basquete gaucho marginalizado no cenário nacional e levou a equipe do
Corinthians de Santa Cruz, ao titulo inédito na Liga Nacional naquele ano de
94.
Vendo de quem
se tratava e o que lhes esperava, chamou os integrantes da nossa seleção, que
nem treinador possuía, para compartilhar da agonia. Começaram então a descer os
jogadores, o menor com 2,20 metros, uns da seleção brasileira, outros
americanos, enfim todos profissionais.
Uns minutos a
mais e chegaram à quadra os carregadores de bolas da delegação. Eram 04 sacos
enormes de viagem, e continham muito mais de 50 bolas para aquecer os atletas.
E, logo a seguir, entraram em quadra os jogadores ainda com suas roupas de
aquecimento.
Para aquecer
as bolas eram alçadas pelos assistentes e os atletas subiam e enterravam-nas na
cesta se revezando um após outro. Enquanto isto, em nosso vestiário
os nossos jogadores se revezavam no buraco da fechadura com olhar atônito, imaginando
o que os aguardava.
Era desumana
tanta diferença, e a entrada em quadra seria apenas para pegar autógrafos dos
ídolos. Esta foi, provavelmente, à conclusão que chegaram rapidamente nossos
representantes. E, esta partida seria um motivo suficiente para entrar no
Guiness, o livro dos recordes.
Afinal em
cálculos matemáticos simples, eles marcariam a cada 10 segundos uma cesta, isto
apenas de dois pontos. Com dois tempos de 20 minutos cada, uma projeção
aproximada do placar seria naturalmente algo em torno de 250 x (0). No máximo a
02, isto se eles fizessem uma cesta para nós.
Fazer o que fazer
para evitar tal disparidade? Eis que, enquanto os adversários se fardavam surge
uma voz brilhante e diz: -“Vamos esquecer os autógrafos e sair de fininho”.
Pois assim foi. Começaram a debandada, e para não serem notados ficou um para
alcançar o material dos outros pela janela.
Não haviam previsto
um ultimo detalhe. O que fazer com a bola velha, que era grande para passar na
janela? O ultimo vivente deu um jeito. Furou-a com o canivete e escondeu atrás
do vaso. Antes de se retirar deixou a luz ligada e a chave do lado de dentro, evitando
suspeitas imediatas da fuga.
La fora uns
já tinham tomado um táxi, e gastaram o resto da economia que tinham para pagar
a corrida. E, o ônibus que passou buscá-los estranhou que os atletas não
estavam mais no local. Acontece que ainda não sabiam do abandono e da fuga
cinematográfica que eles tinham feito horas antes.
Mas ainda não
havia terminado o martírio. Na manha seguinte noticia estampada na ZH dava
conta do primeiro caso de abandono na historia do JIRGS. E, dizia que fora
feita pela equipe de basquete que representava o Alto Uruguai. Noticia esta que
ridicularizou tal atitude e os que dela participaram.
Claro Santa
Cruz, representada pelo Corinthians, foi campeã estadual. Após nacional, também
por W.O contra o Paraná. E, como dizia Ary Vidal, a historia não contará exatamente
como aconteceu talvez algo próximo disto. Mas para estes atletas esta historia
é real e um momento marcante na vida. Parabéns Chico, Babi, Dido, Mica e H.
Para nós, em
95, um novo campeonato municipal e após uma disputa com Erexim,onde vencemos e
obtivemos a vaga para o JIRGS. Em virtude do abandono do ano anterior não foi
possível participar.
Enfim, como diz o próprio Ary Vidal, a historia nunca
contará precisamente como foi que aconteceu. Talvez seja algo próximo disto.
Mas certamente para quem foi a Lajeado esta historia é real e um momento marcante
na vida.
Publicado no jornal A Folha Regional em 1º de agosto de 2014.