Este blog é para postar os artigos que são publicados no jornal A Folha Regional, de Getúlio Vargas, de autoria de Paulo Dalacorte.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O Correio do Povo

“De memória se faz à história” – Assis Chateaubriand

Ah! Maravilhosa tecnologia chamada Internet que me abastece de informações diárias de toda ordem. Umas alegram, outras comovem, algumas enfurecem e a que li no último dia 22/02/2007 no UOL, com o titulo de “Rádio e TV Guaíba foram vendidas para a Igreja Universal” me recordam bons momentos. Segundo as primeiras informações, será o jornal Correio do Povo o único meio de comunicação que a Empresa Jornalística Caldas Junior não negociou, ao menos num primeiro momento. Parei após a leitura da noticia por instantes e relembrei alguns fatos no transcorrer de minha vida, associados à empresa pela qual possuo um carinho especial. Afinal, foi lá que obtive meu primeiro emprego como estagiário, no ano de 1986.
Recorri ao próprio Correio do Povo, para lhes contar um pouco da história da Empresa Jornalística Caldas Junior. Sob o titulo de “Origem e trajetória do Correio do Povo se entrelaçam com a história do Rio Grande”, a matéria veiculada no dia 02/10/2005, narra o percurso da empresa.(em www.cpovo.net/jornal/especiais/cpesepcial/Fim08.pdf artigo completo). Resumidamente o texto fala que: “o jornalista Francisco Antonio Vieira Caldas Junior fundou o Jornal Correio do Povo, em 1º de outubro de 1895. Com o objetivo de ser apartidário ele dizia que não defenderia nem o branco dos chimangos e nem o vermelho dos maragatos. (..) Sua primeira edição saiu com quatro páginas e 2 mil exemplares.(..) A morte prematura do fundador em 1913 deixou o jornal em dificuldades as quais vieram a ser supridas no ano de 1935, quando a direção da empresa foi assumida definitivamente por um filho do fundador: Breno Alcaraz Caldas. Ele permaneceu no cargo por mais de 50 anos e, nas décadas de 40, 50 e 60 consolidou a liderança do Correio do Povo entre os diários. O Rio Grande do Sul passou a se informar pelo Correio (..)”.
Desta primeira fase, do jornal em formato “Standart”, lembro-me que os lia diariamente na casa de meus avós maternos. Comendo alguma guloseima preparada pela vó Elvira e com aquele enorme jornal espalhado pela mesa do escritório. Assinantes e fãs do Correio do Povo, o seu Abrilino e a dona Elvira Filippon, eram exemplos dos “gaúchos que demonstravam sua confiança no jornal repetindo a frase que se tornaria um slogan não –oficial: Se deu no Correio, é verdade”, segundo consta na referida matéria.
Para lhes dar a dimensão do complexo empresarial que se formou, relata ainda o texto: “expandindo os negócios, em 1936 a empresa lançou a Folha da Tarde, inaugurando o formato tablóide, menor e mais prático, que hoje predomina no Estado. Foi seguida em 1949, pela Folha Esportiva que durou até o ano de 1963. Em 1969, outro lançamento de sucesso: a Folha da Manhã, uma experiência arrojada que circulou por mais de uma década e veio a fechar em 1980. (..) A rádio Guaíba AM foi inaugurada oficialmente em 1957, enquanto que a Guaíba FM só surgiria com o advento da freqüência modulada no ano de 1980. Em 1979 foi a vez de surgir a TV Guaíba. (..) Em junho de 1984 o que parecia impossível aconteceu, o Correio do Povo deixou de circular. (..) desde meados dos anos 70 que a Caldas Junior enfrentava dificuldades financeiras, e um a um os jornais foram fechando”.
Até que no ano de 1986 a empresa foi adquirida pelo empresário e economista Renato Bastos Ribeiro. Disposto a reativar o jornal Correio do Povo, reformulou o parque de máquinas, contratou uma nova equipe de trabalho e no dia 31 de agosto de 1986, o jornal voltou a circular. O titulo do editorial dizia o seguinte: “O Rio Grande e o Correio do Povo se reencontram hoje”. Aproximadamente um ano após, em 1987, o jornal começou a ser publicado num formato tablóide, modelo que segue até os dias atuais. Com uma nova filosofia de chegar ao leitor com custo acessível e ampla circulação.
Pois me lembrei então, que nesta segunda fase do Correio do Povo após seu retorno, é que aluno de engenharia eletrônica na PUC fiz um estágio na empresa. Indicação do meu colega de apartamento e compadre Marcos Belé, que já trabalhava lá. Não pensem vocês leitores que fui um jornalista, colunista ou diagramador. A minha principal função era trocar placas de terminais de computadores estragados durante o período de 16 às 24 horas. Neste horário os digitadores das matérias a serem publicadas no jornal do dia seguinte, as transpassavam das folhas dos jornalistas para a tela do computador. Quando avariado algum destes terminais, era eu quem acionado deveria providenciar a imediata reposição da placa estragada e deixá-la novamente em funcionamento. A outra tarefa, mais árdua para os meus conhecimentos e paciência, era procurar os defeitos apresentados pela placa, retirar os componentes defeituosos delas e repor peças novas. Caso não conseguisse, o que era mais comum acontecer, deixava uma notação do defeito apresentado para o engenheiro responsável de meu setor consertar no dia seguinte.
Foi com esta experiência prática que decidi não mais seguir nesta profissão. Sem muita habilidade para usar multímetros e calma para retirar e refazer soldas em relés, transistores e outros componentes eletrônicos cheguei a conclusão que seria muito frustrado no meu futuro trabalho. Então acordei minha saída da empresa jornalística Caldas Junior sete meses após meu ingresso e tranquei a matricula na faculdade.
Mesmo fora da empresa, e sem deixar grandes amizades pelo exíguo tempo que lá permaneci, aprendi nesta experiência a enxergar um jornal muito além de um simples divulgador de noticias e formador de opiniões. Relembro a correria diária de jornalistas, digitadores, paginadores, diagramadores, entregadores e todo um aglomerado de pessoas que tem um prazo estabelecido para aprontar a edição que deve ser levada matutinamente, na porta do leitor, cumprindo assim sua rotina diária. Talvez estes meus escritos sejam também uma forma de continuar identificado e presente na vida de um jornal, mesmo que de forma esporádica.
Quanto ao Correio do Povo espero que, ao completar 113 anos em outubro de 2007, permaneça vivo e atuante. Gerando empregos e satisfação aos seus fiéis leitores, como este que vos escreve. Aguardemos, no entanto, os desdobramentos que serão apresentados nos noticiários vindouros sobre seu incerto futuro.

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