Este blog é para postar os artigos que são publicados no jornal A Folha Regional, de Getúlio Vargas, de autoria de Paulo Dalacorte.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A Turma dos FIÉIS

Quando residia em Porto Alegre, aproveitava as férias para vir à minha terra natal. E, enquanto aqui permanecia tinha um encontro marcado nas noites de Sexta: a turma dos Fiéis.
Seus seguidores batiam o ponto com qualquer tempo. Apreciadores de um jogo de cartas, dominó ou um simples bate papo. Claro, sempre regados a um maravilhoso churrasco, um vinho ou uma cerveja gelada.
No início a Turma tinha como local de encontro o Galpão do Lebrão. Com o crescimento dela houve a transferência para a sede do Cobra Preta. Só posteriormente ocorreu a mudança para o local onde comecei a freqüentar.
Fui levado à primeira vez pelo meu tio Paulo Filippon. O local era um porão nos fundos da casa, que depois pegou fogo, onde atualmente se localiza a Imobiliária Forlin.
Um dos fundadores do grupo, junto com os irmãos Airton e Arlei Karpinski, o saudoso Juruna açougueiro do mercado, era o locador da casa nos fundos deste terreno e provavelmente quem conseguiu o local emprestado.
Todos os encontros tinham os mesmos organizadores: o Milton Giareta e o Otávio Sanzanowscki. Funcionários, a época, do Escritório Contábil Oleksinski. E, ligavam sempre aos assíduos para confirmar presença.
Com meu retorno em definitivo para Getulio Vargas, me efetivei semanalmente. Então houve o incêndio e, ficamos temporariamente sem local e também uma única Sexta feira sem o tradicional encontro.
Aceitamos a oferta do então Capitão da Brigada Militar, o Chico Liberal, também companheiro dos Fiéis. Fomos provisoriamente para o galpão de festas na sede daquela entidade.
Lá permanecemos mais de ano, e neste tempo houve muitas reuniões para adquirir um terreno para sede própria. O Andretta havia até se prontificado a doar brita e concreto para a futura obra.
Não fechou e talvez premonição que não iria durar muito tempo. Prazo esgotado na Brigada, mudamos para a Oficina do Gilberto Müller. Nos acolheu feliz da vida e na inauguração resolveu assar um  matambre recheado.
Foi um sucesso, mas não na primeira volta do espeto. Que aconteceu  perto das dez da noite. Com a euforia da casa nova esqueceu-se de colocar mais lenha no fogo. O matambre ficou literalmente cru.
Quem teve um pouco de paciência jantou, à meia noite obviamente. Talvez tenha sido a última noite que estivemos com a casa cheia,com todos freqüentadores dos mais antigos aos mais novos.
Alguns encontros a mais e subitamente perdemos um idealizador e organizador. O querido amigo, compadre e companheiro Milton Giareta. E, sem ele as noites de Sexta-Feira ficaram mais vazias e sem graça.
 Os fiéis, até tentaram seguir adiante durante algumas sextas-feiras, porém a tristeza e a saudades do Milton fizeram com que fossemos nos dispersando lentamente até que se extinguiram os encontros.
Na lembrança as boas noitadas de uma turma que durou 22 anos. E, logo adiante quando nos encontrarmos com o Milton estaremos retomando a Turma dos Fiéis, que ele agora comanda nas noites de Sexta-Feira lá em cima.


Publicado no jornal A Folha Regional em 30 de agosto de 2013.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

O Doador e suas constatações

"Para ver muita coisa é preciso despregar os olhos de si mesmo". Friedrich Nietzsche

Com o passar do tempo vamos constatando algumas coisas na vida. A principal delas é que as mudanças são visíveis, e que gostando ou não delas temos que nos adaptar ao novo.

Não sei mensurar se para melhor, isto cabe a cada um, no seu conceito de vida. Porém, elas acontecem. No mundo, na sua volta, na rotina e no proprio corpo.

Pasme, o Papa já não necessita morrer para ser trocado No Brasil, não se precisa mais de sindicatos para ter greves. Até a Praça Flores da Cunha esta modificada e tem pista de skate nela.

Meu habito da janta foi abolido, pois sobrecarrega meu estomago. O exercicio fisico esta mais moderado pois do contrario ataca minha bursite. E quem diria meus cabelos ficam raros e brancos dia após dia.

Pois, lembrei que há alguns anos lançaram a campanha para doar orgãos. Desde lá digo aos amigos que meu projeto é doar os olhos. Uso aquele ditado que diz que: "vou morrer e nem sei se verei Deus".

Entao, desta forma ao menos posso ver todas mudanças mundanas, sem minha presença fisica. E, confesso, que se encontrar Deus acharei um jeito de pedir a Ele que não me deixe cego.

Pois, agora fazendo um check-up do meio seculo de vida, começo a concluir que para chegar a tão sonhada velhice, meus orgãos estarão tão comprometidos que não servirão para niguém.

Inicialmente constatei que tenho excesso de ferro no sangue. Que ao tira-lo, não posso doar para salvar vidas, e ele deve ir para o lixo. Não serve sequer para "morcilha"(risos).

Também que meus olhos, aqueles que imagino doar, estão cansados e precisam de auxilio de lentes para ler. Mas passados mais uns anos, é provavel que com elas não enxerguem nada.

Isto que estou na fase inicial do meu check-up. Falta muito para todo meu corpo ser mapeado por completo. Do jeito que está andado alguns outros problemas ainda serão detectados.

Talvez mais meia duzia de médicos e lá vem um veredito: transplante. E então, haverá partes do meu corpo sendo substituidos por outros de borracha, plastico ou de algum animal irracional.

E, finalmente a mais obvia de todas constatações. De doador, logo, logo, se avançar na idade mudarei para receptor de orgãos. Para continuar, ainda enquanto vivo, vendo as transformações a minha volta.
 
Publicado no jornal A Folha Regional em 23 de agosto de 2013.