Este blog é para postar os artigos que são publicados no jornal A Folha Regional, de Getúlio Vargas, de autoria de Paulo Dalacorte.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

QUARTA DE CINZAS

“Acabou nosso carnaval, Ninguém ouve cantar canções, Ninguém passa mais brincando feliz, E nos corações, Saudades e “cinzas foi o que restou” - Vinícius de Moraes

Segundo a pesquisadora Cláudia M. de Assis Rocha e Lima, da Fundação Joaquim Nabuco de Recife, “o inicio do Carnaval remonta a dez mil anos Antes de Cristo (A.C.), quando homens, mulheres e crianças se reuniam no verão com seus rostos mascarados e corpos pintados para espalhar os demônios da má colheita”.
Conforme relato dela, as origens “tem sido buscadas nas mais antigas celebrações da humanidade. Tais como as festas egípcias que homenageavam o touro Ápis e a deusa Ísis. Ou então, a dos gregos que festejavam a celebração da volta da primavera, nas festas Luperciais e Saturnais”. Todos os pesquisadores, no entanto, concordam num ponto. As festas como as de carnaval eram associadas aos fenômenos astronômicos e ciclos naturais. O carnaval, portanto, sempre se caracterizou pelas festas, divertimento público, baile de máscaras e manifestações folclóricas. Na Europa os mais importantes carnavais atualmente são realizados em Paris, Nice, Veneza, Roma, Nápoles, Florença e Munique.
Ainda para a pesquisadora Cláudia M. de Assis Rocha e Lima, “no Brasil o Carnaval, no seu primórdio, foi chamado de Entrudo. Trazido pelos portugueses da Ilha da Madeira, Açores e Cabo Verde, por volta de 1723, consistiam na brincadeira da louca correria, o mela –mela de farinha, para só bem depois surgir às batalhas de confete e serpentinas”. A data é comemorada tradicionalmente no sábado, domingo, segunda e terça - feira anterior aos quarenta dias que vão da Quarta - Feira de cinzas ao Domingo de Páscoa.
Tornarem-se ao longo do tempo tradicionais os carnavais de Rua do Rio de Janeiro, Salvador e Recife, cada qual com suas tradições. O Rio de Janeiro com o ritmo da marchinha, seus blocos populares como o “Cordão do Bola Preta” e seu tradicional desfile de apresentação das Escolas de Samba; Salvador com seus trios elétricos e a mistura de sons levam multidões a rua; e, Recife e Olinda onde o povo brinca ao som do frevo e do maracatu, nas principais ruas de suas cidades.
Em Getúlio Vargas, desde os primórdios de sua criação existem alguns registros sobre esta festa tradicional. Dos anos trinta encontramos no Livro “A Chegada” de Pedro Antonio Tagliari, uma foto estampada na pág. 150, onde aparecem carros alegóricos e os foliões desfilando nas ruas da cidade, com a seguinte menção: “foto de desfile carnavalesco, na época da juventude de Afonso e seus amigos, período em que veio a conhecer a Milena”. Nos anos cinqüenta, Heitor José Filippon em seu artigo “O seu Benedito” faz referência ao Bloco dos Morenos. Segundo ele: “O bloco dos Morenos, nasceu da iniciativa de Panella (funcionário do Posto de Higiene). Alegrou nosso carnaval em 1950 e desapareceu. O rei do Bloco era Assunção um brigadiano gordo e popular”. E adiante, cita parte da marcha enredo do bloco “com esta sim, com outra não, o bloco é dos morenos e o nosso rei é o Assunção!”.
Dos anos 70 e início dos anos 80, trago minhas lembranças pessoais. As festas carnavalescas foram marcadas pelos bailes de salão. Eram quatro noites e duas tardes de animação. Nestas décadas o antigo Clube Aliança, a Sociedade Getuliense de Cantores (Sogeca) e o Clube Cruzeiro do Sul, hoje pertencente ao município de Estação, dividiam as atenções dos foliões de nossa região. Presença garantida todos os anos no Clube Aliança era o conjunto “Painel Banda”. Sob a regência do seu Frederico Goelzer, “o Fritz”, pontualmente à meia noite de sábado, com a música Cidade Maravilhosa, eram entoados os primeiros acordes que iriam alegrar a folia durante as próximas noites.
Da metade dos anos 90 até os dias atuais, voltamos novamente aos carnavais de rua. Começa a se tornar tradicional em nossa cidade o carnaval de apresentação e competição, onde neste ano haverá a passagem do Bloco da Terceira Idade, da Escola Império da Zona Norte e da Escola Unidos do Circulo Operário. O desfile levará no sábado dia 13, como em anos anteriores, milhares de espectadores de toda nossa região da grande Getulio Vargas para a Av. Severiano de Almeida.
Atualmente, os bailes de salão, que outrora eram um sucesso em todo Brasil vêm perdendo gradativamente seu espaço, mesmo na televisão e na mídia impressa. Tampouco conseguem dar ao carnaval o sentido popular de “barato e para todos”. No entanto, parte da musica de Vinicius de Moraes descrito acima, pode ser adaptado a mim e minha geração. Ele cita que há muito tempo, “em nossos corações saudades e cinzas foi o que restou”, daqueles bons e inesquecíveis carnavais de Clubes Sociais. Quem sabe com o retorno das atividades do antigo Clube Aliança, agora associado ao Tênis Clube Getuliense, nos ofereça novamente a oportunidade de aliarmos o baile de salão com a festa da Rua.
E, quando o carnaval chegar possamos eu e você leitor, lembrar dos tempos de outrora. Onde aquela parte do refrão da música “Cidade Maravilhosa”, que era tocada pelo seu Fritz e a exaltava como “cheia de encantos mil, coração de meu Brasil” possa ser adaptada a nossa querida e simpática Getulio Vargas. E na quarta feira, quando o carnaval terminar fazer com que “as cinzas do que restou” nos alegre o coração de poder ter participado desta festa que é a manifestação popular mais apreciada em todo nosso País. E esperar, como no fim da musica de Vinicius de Moraes, para na quarta feira de cinzas poder dizer “Quem me dera viver pra ver, E brincar outros carnavais, Com a beleza dos velhos carnavais, Que marchas tão lindas, E o povo cantando seu canto de paz”.

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