Este blog é para postar os artigos que são publicados no jornal A Folha Regional, de Getúlio Vargas, de autoria de Paulo Dalacorte.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

IMAGENS

“O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isto” Mário Quintana

Dias atrás foi publicada em sites e jornais uma foto do goleiro Bruno, ex-Flamengo, suposto mandante da execução de Elisa Samudio. Nela aparecia saindo do hospital numa cadeira de rodas, com soro e algemas nos braços.
Cena deprimente contrasta, em muito, daquelas imagens visuais em que mostrava o atleta campeão brasileiro e ídolo da garotada. Menino pobre, Bruno, através do futebol ficou rico e conseguiu alcançar fama ainda novo. Tudo o que almejam a maior parte dos cidadãos brasileiros.
Num ato impensado, ele destruiu a carreira, os sonhos e voltou à miséria humana. Não pense que tenho pena deste cidadão, pois acho que se confirmadas às suspeitas a justiça deve ser feita.
Revendo algumas fotos pessoais lembrei-me de um amigo de infância. Na imagem, com uniforme escolar, formávamos uma dupla de contrastes. Ele negro e nas séries iniciais do ensino básico. Eu branco e no jardim de infância. Comprometeu-se com meus pais acompanhar-me na ida para Escola Mathias Lorenzon. Garoto esperto, sorridente, morava na casa que atualmente é dos Knerek.
Com a transferência de local de trabalho de seu pai, operador de máquina na capatazia do Daer, não tive mais noticias dele. Soube apenas que havia mudado para o Paraná. Até que, anos atrás, ele apareceu. Chamou minha mãe de madrinha e começou a chorar. Sua fala misturou lembranças antigas e outras recentes sem nexo. Disse ser operador de maquinas igual ao pai, pediu dinheiro e foi.
Soubemos, através de alguns relatos de parentes dele, que após um dia de trabalho ao tomar um banho frio, teve um choque térmico. Um fato que modificou completamente sua vida. Enfim para meu amigo Adão, a quem vocês conhecem por Bob, a vida foi cruel, diferentemente do acontecido com Bruno. A partir daquele fato virou andarilho e em condições miseráveis.
Freqüentemente o encontro na rua perambulando com seu cachorro guardião. Fala das mesmas coisas, da madrinha Dirce hoje já falecida, pede um dinheiro, um cigarro e vai embora. Imagem triste e contratante do menino esperto e alegre de outrora.
Espero que este pequeno relato acenda um pouco da compaixão que existe em todos vocês. Se quiserem ignorá-lo, como faz o poder público no geral com estas pessoas, ao menos não o maltratem. Deixem-no viver com seus sonhos e fantasias, e pensem que nenhum de nós sabe o que nos reserva o futuro.

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