Este blog é para postar os artigos que são publicados no jornal A Folha Regional, de Getúlio Vargas, de autoria de Paulo Dalacorte.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Uma Escola para a Vida


“A educação é o único caminho para emancipar o homem. Desenvolvimento sem educação é criação de riquezas apenas para alguns privilegiados.” – Leonel Brizola, falecido em 2004.

Fim da primeira década do século XXI. Muitos fatos retrospectivos nos vêem a lembrança, uns de ordem pessoal e outros ligados a história de nossa comunidade durante todo este tempo. Publico dois acontecimentos ligados a minha educação, que deixarão saudades, no meu mundo diário de Getulio Vargas.
Após 82 anos de vida, no ano passado, faleceu meu Pai. Era um sujeito avesso a viagens, festas e aglomerações. Até para Estação, se pudesse, mandava alguém no lugar dele. Ligado a terra e sua horta, a madeira e a moldá-la com o formão, se considerava um marceneiro criador de altares.
Junto com minha mãe foi deles a minha primeira escola para a vida. Seu Elido era extremamente organizado e os maiores “pitos” dele para comigo sempre foram em relação a minha desorganização. Insistiu na minha vida escolar, e seguidamente falava que a riqueza pode se perder, porém o ensinamento e o saber colocado no seu cérebro ninguém tira. Que Deus o tenha em sua querência.
Também as Irmãs Franciscanas, dirigindo a Escola Santa Clara, que desde sua chegada no longínquo ano de 1922, quando se instalaram ao lado da atual Igreja Matriz Imaculada Conceição até a transferência para a sede atual localizada na Rua Jacob Gremeilmeier nº 215, encerram as suas atividades neste fim de ano. Foram 88 anos de existência em nossa cidade e do jeito franciscano de ensinar.
Foi nesta escola, que passei todo meu ensino primário, nos anos 70. Levo belas recordações das aulas da Ledi Bianchi e Sonia Piazetta nas séries iniciais, e mais adiante dos professores Edino e Leila Farias, do Ângelo Taufer, da Marisa Mascarelo, da Ligia Bonassi, enfim cito apenas alguns entre muitos professores. E, em especial, da Irma Gelma a professora de Matemática e Ciências. Falava-nos no inicio de cada aula que tinha olhos e ouvidos de lince para qualquer movimento em falso que pudéssemos fazer nas suas aulas ou algum tipo de algazarra.
A partir de agora o Santo Clara não estará mais sob a batuta das Irmãs Franciscanas. Isabela, minha filha, atual presidente do Grêmio Estudantil me convidou para ir à noite de término do ano letivo, na sexta- feira (10/12). Porém decidi não comparecer e ver o triste fim de uma morte anunciada. O imóvel havia sido vendido para a Faculdade IDEAU anos atrás, ela que agora assume o comando da Escola. Que Deus ilumine e guie as Irmãs Franciscanas agora em outras paragens, pois há um sábio dizer que tudo na vida tem um fim.
Publicado no Jornal A Folha Regional, em 31 de dezembro de 2010.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

No Bar do Compadre


"A cachaça alegra a gente, fumar dá prazer, a morte vem e carrega tudo, então vamos fumar e beber". (Chico Xavier)
Fim de tarde estava eu e o Iran, dos Automóveis e Peças, ali no Athi’s Bar, na esquina da A. Bramatti com a A. F. Holzbach. Enquanto bebíamos umas Serra-malte, servida pelo gerente Zinco, presenciamos o encontro e o bate papo de dois velhos conhecidos na mesa ao lado.
O Zé, nascido e criado em Getcity hoje residindo no Rio e autêntico carioca da gema; e o Tatu, índio matuto aqui da terra e grande conhecedor do mundo pelo Jornal Nacional.
Depois de uns goles de Galo Azul para aquecer a alma, e um maço de cigarros fumado o papo já rolava solto entre os dois. O Tatu perguntava, o Zé respondia.
- Zé, o Rio é mesmo uma cidade maravilhosa como mostra na TV?
- Com certeza. Tem o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, Copacabana.
- E tu vai assistir futebol?
- Sim, todo domingo vou ao Maraca, palco sagrado do meu Mengão.
- E a mulherada?
- Show de bola. Lindas e desfilando em seus minúsculos biquínis.
-Mas tão matando gente lá como matávamos passarinho, né?
- Sim, a bandidagem precisa controlar o tráfico no morro.
- E a guerra destes dias no Complexo do Alemão, Zé?
- Pra garantir o ir e vir das pessoas, o tal estado democrático de direito.
De uma forma resumida, e mesmo assim foi hora e uns bons tragos a mais, o Zé explicou ao amigo que o crime começou pequeno, com as pessoas achando normal ter banca de bicho ali no lado e caça níqueis no boteco de esquina. Daí foi um pulo para uma boca de fumo na entrada do morro e o menino armado para manter a segurança do negócio da droga.
Segundo o Zé, este movimento armado que não tem nada a perder, aconteceu com o consentimento da população, por conveniência, apatia ou medo dela. E que só agora numa operação conjunta os Policiais, Policia Federal e Tropas Militares entraram no controle no Complexo do Alemão.
Disse ainda, que a guerra não esta ganha, apenas foi retomado um território que era de domínio do tráfico. Ele espera que de fato o Estado a partir de agora assuma suas funções de manter a segurança para a população daquela localidade.
Então o Zé, lembrando do avançado da hora, e pra lá de Bagdá achando que estava no Rio quis se recolher para que nada de ruim lhes acontecesse. De imediato o Tatu lascou:
- Calma meu amigo! A noite é uma criança! Nosso papo está bom! O Ati só fecha as 11 mesmo. Vou pedir a penúltima e mais um maço de "Free" e depois vamos juntos e sem pressa porque ainda não há tiroteio por aqui.
Bem, nestas horas o compadre Ati já tava querendo fechar. Eu e Iran já tínhamos tomado a saideira e então, de fininho, sem sermos notados rumamos para casa. Até agora não sei como o papo do Zé com o Tatu terminou.
 
 
Publicado no Jornal A Folha Regional em 03 de dezembro de 2010.