Este blog é para postar os artigos que são publicados no jornal A Folha Regional, de Getúlio Vargas, de autoria de Paulo Dalacorte.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O MESTRE ATALIBA

“Não há mestre que não possa ser aluno” – Baltasar

Sábado chuvoso e escurecendo cedo. O Grêmio, neste momento,
classificado para disputar a Libertadores do próximo ano, juntamente com o Inter. Vamos lentamente terminando mais um dia de futebol no Fuxicão Lanches. Melancólico dia, diga-se de passagem. Nem das discussões que sempre acontecem após o jogo, não participei. Triste e cabisbaixo fui me recolhendo mais cedo ao lar.
Sentei-me defronte ao computador e resolvi escrever algumas frases em homenagem a um incentivador do futebol local. Este 18 de novembro de 2006 deixará uma lacuna aos desportistas da região e amigos pessoais do Ataliba Flores. O Mestre como costumávamos chamá-lo, partiu. Filho de Seu Octaviano e Dona Alice nasceu em Getulio Vargas no ano de 1937. Foi casado com Leonilda Morilos “a Meca”, como ele a chamava. Teve três filhos: a Rosana, o Flávio e a Fernanda.
Sempre ligado a nossa família, foi na antiga Oficina de Altares dos Irmãos Dalacorte, localizada na Alexandre Bramatti, n.959, que o Ataliba fez sua vida profissional como marceneiro, onde inclusive se aposentou. Deixou espalhados pela cidade muitos móveis construídos e reformados por ele naquele local. No papel e no projeto, que eu saiba, ficou apenas um pequeno altar. Sonho dele e meu pai, para doar a alguma capela local e lembrar-se dos velhos e bons tempos da fábrica de altares.
A última imagem e fala que guardarei do Ataliba me reporta ao mês de abril de 2003. Esteve em uma reunião do Instituto Histórico e Geográfico de Getulio Vargas, a convite de sua prima Lisolete Farias Stawinski. Na ocasião gravou uma entrevista para o projeto Memória Oral Getuliense. Os interessados podem ouvi-la no IHGGV, onde se encontra disponível. Consciente, e por fim emocionado, narrou sua trajetória de vida. Falou da sua infância, da juventude, seu trabalho, sua família e a agremiação pela qual tinha tanto carinho: o Esporte Clube Cobra Preta.
Entidade que, justa e merecidamente, ainda em vida colocou o seu nome como de Patrono do Clube. Porque a imagem do Esporte Clube Cobra Preta se associa com a do Ataliba Flores. Grande parte do prestigio, das conquistas municipais e regionais alcançada pelo Clube se devem a dedicação, a perseverança e ao trabalho pessoal dele. O “cabeção” como carinhosamente o chamávamos, foi jogador, treinador, presidente e nas horas vagas ainda atuava como massagista de seus atletas lesionados. Costumava dizer seguidamente a sua esposa, segundo palavras dela: “Meca, minha primeira paixão foi e sempre será o Cobra Preta”.
E, com seu clube do coração teve inúmeras alegrias e façanhas. Provavelmente, neste momento esteja contando alguma delas nas fronteiras do Além. Ou talvez, iniciando novamente como aluno. Para, adiante, depois de conhecido o “campinho” planejar um Cobra Preta com atletas anjos, no jardim do Éden.
Enfim, cansado vou recostar minha cabeça no travesseiro e dormir. Mas antes, quando deitar, lembrarei que a cama onde durmo foi obra do Mestre Ataliba Flores.

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