Este blog é para postar os artigos que são publicados no jornal A Folha Regional, de Getúlio Vargas, de autoria de Paulo Dalacorte.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Ary Vidal e o Basquete Getuliense – Parte 2

“Cruxen, a história não conta como foi, mas sim quem foi” Ary Vidal, frase ao jogador do Corinthians, na final da Liga Brasileira de basquete (94).

Enfim chegou o ultimo dia dos JIRGS. Esperançosos, seguindo a rotina, foram de ônibus ao ginásio que era longe do centro da cidade. Na chegada direto para o vestiário, com sua mochila (tênis, calção e meia). Além disto, apenas uma velha bola de basquete e a sacola das camisas.

          Após se fardarem, e antes de iniciar aquecimento e prece, um jogador foi abrir a janela para fumar um cigarro. Para sua surpresa avistou a chegada defronte ao vestiário de um ônibus de dois andares. Naquela época usada apenas por empresas em viagens internacionais.
         
      Ah! Um susto apenas. Imaginou ser a delegação de Santana do Livramento. As suspeitas, porém, não se confirmaram. Começou o desembarque. O primeiro foi Ary Vidal, comandante da geração de Ouro de Oscar e Cia, campeão no Pan de 87.

          Ary que costumava dizer: -“Treinador é de cavalos. Eu sou técnico, aquele que domina o detalhe.” Pois foi ele que topou desbravar o basquete gaucho marginalizado no cenário nacional e levou a equipe do Corinthians de Santa Cruz, ao titulo inédito na Liga Nacional naquele ano de 94.

Vendo de quem se tratava e o que lhes esperava, chamou os integrantes da nossa seleção, que nem treinador possuía, para compartilhar da agonia. Começaram então a descer os jogadores, o menor com 2,20 metros, uns da seleção brasileira, outros americanos, enfim todos profissionais.

Uns minutos a mais e chegaram à quadra os carregadores de bolas da delegação. Eram 04 sacos enormes de viagem, e continham muito mais de 50 bolas para aquecer os atletas. E, logo a seguir, entraram em quadra os jogadores ainda com suas roupas de aquecimento.

Para aquecer as bolas eram alçadas pelos assistentes e os atletas subiam e enterravam-nas na cesta se revezando um após outro. Enquanto isto, em nosso vestiário os nossos jogadores se revezavam no buraco da fechadura com olhar atônito, imaginando o que os aguardava.

Era desumana tanta diferença, e a entrada em quadra seria apenas para pegar autógrafos dos ídolos. Esta foi, provavelmente, à conclusão que chegaram rapidamente nossos representantes. E, esta partida seria um motivo suficiente para entrar no Guiness, o livro dos recordes.

Afinal em cálculos matemáticos simples, eles marcariam a cada 10 segundos uma cesta, isto apenas de dois pontos. Com dois tempos de 20 minutos cada, uma projeção aproximada do placar seria naturalmente algo em torno de 250 x (0). No máximo a 02, isto se eles fizessem uma cesta para nós.

Fazer o que fazer para evitar tal disparidade? Eis que, enquanto os adversários se fardavam surge uma voz brilhante e diz: -“Vamos esquecer os autógrafos e sair de fininho”. Pois assim foi. Começaram a debandada, e para não serem notados ficou um para alcançar o material dos outros pela janela.

Não haviam previsto um ultimo detalhe. O que fazer com a bola velha, que era grande para passar na janela? O ultimo vivente deu um jeito. Furou-a com o canivete e escondeu atrás do vaso. Antes de se retirar deixou a luz ligada e a chave do lado de dentro, evitando suspeitas imediatas da fuga.

La fora uns já tinham tomado um táxi, e gastaram o resto da economia que tinham para pagar a corrida. E, o ônibus que passou buscá-los estranhou que os atletas não estavam mais no local. Acontece que ainda não sabiam do abandono e da fuga cinematográfica que eles tinham feito horas antes.

Mas ainda não havia terminado o martírio. Na manha seguinte noticia estampada na ZH dava conta do primeiro caso de abandono na historia do JIRGS. E, dizia que fora feita pela equipe de basquete que representava o Alto Uruguai. Noticia esta que ridicularizou tal atitude e os que dela participaram.

Claro Santa Cruz, representada pelo Corinthians, foi campeã estadual. Após nacional, também por W.O contra o Paraná. E, como dizia Ary Vidal, a historia não contará exatamente como aconteceu talvez algo próximo disto. Mas para estes atletas esta historia é real e um momento marcante na vida. Parabéns Chico, Babi, Dido, Mica e H.

Para nós, em 95, um novo campeonato municipal e após uma disputa com Erexim,onde vencemos e obtivemos a vaga para o JIRGS. Em virtude do abandono do ano anterior não foi possível participar.

Enfim, como diz o próprio Ary Vidal, a historia nunca contará precisamente como foi que aconteceu. Talvez seja algo próximo disto. Mas certamente para quem foi a Lajeado esta historia é real e um momento marcante na vida.

Publicado no jornal A Folha Regional em 1º de agosto de 2014.

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