Este blog é para postar os artigos que são publicados no jornal A Folha Regional, de Getúlio Vargas, de autoria de Paulo Dalacorte.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

No Bar do Compadre


"A cachaça alegra a gente, fumar dá prazer, a morte vem e carrega tudo, então vamos fumar e beber". (Chico Xavier)
Fim de tarde estava eu e o Iran, dos Automóveis e Peças, ali no Athi’s Bar, na esquina da A. Bramatti com a A. F. Holzbach. Enquanto bebíamos umas Serra-malte, servida pelo gerente Zinco, presenciamos o encontro e o bate papo de dois velhos conhecidos na mesa ao lado.
O Zé, nascido e criado em Getcity hoje residindo no Rio e autêntico carioca da gema; e o Tatu, índio matuto aqui da terra e grande conhecedor do mundo pelo Jornal Nacional.
Depois de uns goles de Galo Azul para aquecer a alma, e um maço de cigarros fumado o papo já rolava solto entre os dois. O Tatu perguntava, o Zé respondia.
- Zé, o Rio é mesmo uma cidade maravilhosa como mostra na TV?
- Com certeza. Tem o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, Copacabana.
- E tu vai assistir futebol?
- Sim, todo domingo vou ao Maraca, palco sagrado do meu Mengão.
- E a mulherada?
- Show de bola. Lindas e desfilando em seus minúsculos biquínis.
-Mas tão matando gente lá como matávamos passarinho, né?
- Sim, a bandidagem precisa controlar o tráfico no morro.
- E a guerra destes dias no Complexo do Alemão, Zé?
- Pra garantir o ir e vir das pessoas, o tal estado democrático de direito.
De uma forma resumida, e mesmo assim foi hora e uns bons tragos a mais, o Zé explicou ao amigo que o crime começou pequeno, com as pessoas achando normal ter banca de bicho ali no lado e caça níqueis no boteco de esquina. Daí foi um pulo para uma boca de fumo na entrada do morro e o menino armado para manter a segurança do negócio da droga.
Segundo o Zé, este movimento armado que não tem nada a perder, aconteceu com o consentimento da população, por conveniência, apatia ou medo dela. E que só agora numa operação conjunta os Policiais, Policia Federal e Tropas Militares entraram no controle no Complexo do Alemão.
Disse ainda, que a guerra não esta ganha, apenas foi retomado um território que era de domínio do tráfico. Ele espera que de fato o Estado a partir de agora assuma suas funções de manter a segurança para a população daquela localidade.
Então o Zé, lembrando do avançado da hora, e pra lá de Bagdá achando que estava no Rio quis se recolher para que nada de ruim lhes acontecesse. De imediato o Tatu lascou:
- Calma meu amigo! A noite é uma criança! Nosso papo está bom! O Ati só fecha as 11 mesmo. Vou pedir a penúltima e mais um maço de "Free" e depois vamos juntos e sem pressa porque ainda não há tiroteio por aqui.
Bem, nestas horas o compadre Ati já tava querendo fechar. Eu e Iran já tínhamos tomado a saideira e então, de fininho, sem sermos notados rumamos para casa. Até agora não sei como o papo do Zé com o Tatu terminou.
 
 
Publicado no Jornal A Folha Regional em 03 de dezembro de 2010.

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